sexta-feira, 24 de agosto de 2018

DESPERTANDO O CONHECIMENTO - ÍNDIA: BERÇO ANCESTRAL DA FÉ

A MEDITAÇÃO O CAMINHO DO EQUILÍBRIO

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Uma das nações mais multiétnicas do mundo, a Índia é caracterizada por ser uma sociedade pluralista. Do hinduísmo, originário no subcontinente indiano, ao cristianismo, trazido pelos ingleses no período da colonização; passando por muçulmanos – cuja maioria se mudou para o Paquistão – e o judaísmo. As religiões indianas têm similaridades em credos, modos de adoração e práticas associadas, principalmente pela história de origem comum e influências semelhantes.

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“Hindu” é o nome em persa do rio Indo, e a maneira que essa palavra é escrita hoje é a mesma de quando foi encontrada pela primeira vez em persa antigo, no sânscrito védico Sindhu. O termo foi utilizado para designar aqueles que viviam no subcontinente indiano – ou além do “Sindhu”. Frequentemente chamado de Sanatana Dharma por seus praticantes, em sânscrito “a eterna lei”, o hinduísmo engloba a crença na alma universal e na divisão do mundo, cultural e religioso, ordenado por castas. Suas raízes estão diretamente ligadas às seitas védicas da Idade do Ferro na Índia, quando as primeiras escritas sânscritas surgiram e foram consideradas sagradas.
Sem um fundador, o hinduísmo é citado como a mais antiga tradição religiosa ainda vigente na Terra. É uma das poucas que manteve sua tradição mesmo com o passar dos tempos, motivo pelo qual cerca de um bilhão de fiéis se declaram hindus oficialmente. A terceira maior religião do mundo, atrás apenas do cristianismo e do islamismo tem grande influência em outros locais também colonizados pelo Reino Unido, como Estados Unidos, Canadá e Trinidad e Tobago (além dos próprios britânicos). Os escritos sânscritos são mais traduzidos para o inglês.
Os hinduístas acreditam na existência de um espírito cósmico, em que divindades são adoradas nos cultos por meios de manifestações corporais do Deus supremo, Brahman. Também tem destaque a trimurti, trindade constituída por Brahma, Shiva e Vishnu. Os hindus baseiam sua fé através de shruti e smriti (“que escuta” e “que recorda”, respectivamente) e são guiados pelos textos védicos, escritos sagrados que formam a base dos conhecimentos hinduístas.
Atualmente, o hinduísmo pode ser dividido por algumas correntes principais. Dos seis darshanas (divisões históricas originais), apenas duas escolas, Vedanta e Yoga, permanecem ativas. As principais divisões do hinduísmo hoje em dia são o vishnuísmo, o shivaísmo, o smartismo e o shaktismo. A imensa maioria dos hindus atuais podem ser categorizados sob um destes quatro grupos, embora ainda existam outros, cujas denominações e filiações variam imensamente.
Segundo alguns estudiosos, o hinduísmo pode ser dividido em: popular (baseado nas tradições locais e no culto às divindades tutelares), dármico (tradução de “moral diária” e baseado na noção de carma, astrologia e manutenção do sistema de castas e costumes de casamentos), vedanta (segue o Advaita), Bhakti (traduzindo: “devocionalismo”, especialmente o vishnuísmo), o Hinduísmo Bramânico Védico (seguindo à risca o modelo praticado pelos brâmanes tradicionais) e o iogue (baseado no “Yoga Sutras”, livro que apresenta o Yoga e suas técnicas de concentração para se livrar do mundo material).
Marcado pela diversidade étnica e cultural, o hinduísmo evolui gradativamente através dos tempos. Por isso, é normal ver de inovações radicais em cultos pequenos até a assimilação de tradições vistas como ultrapassadas. Há uma variedade de tradições e, muitas vezes, a separação do hinduísmo do budismo e jainismo depende mais dos próprios fiéis do que realmente é os textos e tradições.
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A busca de todo hindu é por melhorar seu estado de espírito e alcançar algo além de sua existência, geralmente por meio da meditação e do Yoga. Os hinduístas têm uma crença na não utilização da violência, o amor às criaturas vivas (segundo a qual todas de fato possuem uma essência divina), a reencarnação e o karma.
Todo hinduísta também precisa alcançar quatro objetivos em sua vida, chamados de purusharthakama, artha, dharma moksha. É dito que todos os homens seguem o kama (prazer, físico e emocional) e artha (poder, fama e riqueza), mas brevemente, com maturidade, eles aprendem a controlar estes desejos com o dharma, ou a harmonia moral presente em toda a natureza. O objetivo maior é infinito, cujo resultado é a absoluta felicidade, moksha, ou liberação (também conhecida como Mukti, Samadhi, Nirvana, entre outros) do samsara, o ciclo da vida, morte, e da existência dual.
A vida humana também segue uma lógica de ashramas (fases): Brahmacharya, Grihasthya, Vanaprastha Sanyasa. No Brahmacharya, que acontece no primeiro quarto de vida, os hindus devem passar em celibato, sobriedade e contemplação da vida através de um Guru. Somente assim ele ficará pronto para o restante de sua vida. No Grihastya, o hindu se transforma no chefe de família. É conhecido como Samsara, quando a pessoa se casa e se estabelece como adulta. No Vanaprastha, o indivíduo vai aos poucos se livrando do mundo material, passando responsabilidade aos filhos e dedicando mais tempo à vida religiosa. No Sanyasa, a pessoa encerra sua vida reclusa, para assim encontrar a divindade através da meditação, e se liberar do corpo para a próxima vida.
O hinduísmo tem origem incerta, pois suas menções são anteriores aos registros históricos. De certo, apenas a existência de sânscritos védicos, cuja aparição se firma entre 4 e 6 mil anos a.C.. Ao todo, as escrituras sagradas formam as seis escolas filosóficas ortodoxas hindu, a astika, ou “aqueles que aceitam a autoridade dos Vedas”. As seis escolas são Uttara Mimamsa ou Vedanta, Nyaya, Vaisheshika, Sankhya, Yoga e Purva Mimamsa – também denominadas Mimamsa. Vale ressaltar que a escola Uttara Mimamsa (Vedanta) ainda possui três ramificações, Puro monismo: Advaita Vedanta, Monismo qualificado: Vishistadvaita Vedanta e Dualismo: Dvaita Vedanta. É a partir dos ensinamentos e métodos dessas seis escolas que os hindus direcionam sua fé e adoração. Mas é importante lembrar que existem outras vertentes, não reconhecidas pelos ortodoxos, porém de grande apelo: a Escola devocional Bhakti e o Tantrismo.
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 Fascinante ao mundo ocidental, os hinduístas se utilizam de muitas formas para simbolizar sua fé. A mais popular delas é o puja, um ritual de devoção, geralmente a uma imagem religiosa, com canções ou citações de orações em mantras. A busca simbólica pelo encontro com Deus é auxiliada por canções e rituais. Por isso, o simbolismo é tão presente na cultura hindu e o elemento ahimsa (não violência) faz com que se compreenda alguns de seus princípios. Influenciado pelo jainismo, a prática do veganismo se dizimou entre a população, como modo de respeitar formas superiores de vida, restringindo a dieta em plantas e vegetais.
Cerca de 30% dos hindus, a maioria de comunidades ortodoxas, que influenciam novas gerações, são vegetarianos. Não comer carne não é um dogma, mas é recomendado como sendo um estilo de vida purificador. Alguns, contudo, vão mais longe e evitam até produtos de pele. A explicação histórica é plausível. O povo védico e muitas gerações de hindus ao longo dos séculos dependiam da vaca para produzir todos os tipos de produtos lácteos, além da aragem dos campos e matéria-prima para o fertilizante. O status de “cuidadora” cresceu ao ponto do animal ser identificado como uma figura quase maternal.
Com isso, figuras símbolo da cultura hindu tiveram relação com os bovinos. Krishna é tanto retratado como um pastor de vacas, como um protetor delas. O assistente de Shiva, Nandi, é um touro. O vegetarianismo é seguido à risca, mas há hindus que comem carne. Entretanto, o consumo é proibido em cidades santas. Ortodoxos lutam para que se combata o consumo de carne bovina em toda a Índia.

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Origem do hinduísmo e principal fator que motivou seu crescimento na Índia, os textos hindus foram constituídos por meio do estudo e da leitura dos sânscritos védicos em três níveis: físico material, sutil ou sobrenatural. São duas categorias principais: os shruti (que escutam) e os smriti (que recordam). Apesar dos Vedas serem um dos mais antigos textos religiosos do mundo e também influenciarem o budismo, o jainismo e o sikhismo, a maioria dos fiéis jamais o leu. São quatro edições: Rig Veda, Sama Veda, Yajur Veda e Atharva Veda. Todos eles contêm hinos, encantamentos e rituais na Índia antiga.
Os conhecimentos, a reverência e a noção abstrata (Veda significa “conhecimento” em sânscrito) estão profundamente disseminados entre os hindus através de escrituras sagradas importantes: "Bagavad Gita", "Mahabharata", "Ramayana", "Upanixades", "Vedanta Sutras", "Yoga Sutras" e "Devi Mahatmya". Além deles, há também os "Puranas" (smriti), ensinamentos passados de pai para filho oralmente. No total, são 18 principais, escritos na forma de versos. O hinduísmo não venera vários deuses, como se imagina olhando de longe. Mas mesmo assim, comparado ao catolicismo, há adoração a diversas imagens que representam Brahma. As estátuas ou fotografias não são o próprio Deus, mas sim uma via para se comunicar com ele.
Os hindus acreditam em uma origem única sem forma ou um deus pessoal, cuja verdade pode ser vista de diferentes formas para pessoas variadas. O religioso é encorajado a descrever e se envolver em um relacionamento pessoal com sua deidade escolhida (chamada de ishta devata). A maioria dos hindus adora muitos deuses como expressões variadas do mesmo prisma da Verdade. Entre os mais populares estão Vishnu (como Krishna ou Rama), Shiva, Devi (a Mãe de muitas deidades femininas, como Lakshmi, Sarasvati, Kali e Durga), Ganesha, Skanda e Hanuman.
Recitação e mantras tiveram origem no hinduísmo e são técnicas utilizadas até os dias atuais, a maioria através de japa (repetições). Dizem que os mantras, com seus significados, sons e recitações melódicas, auxiliam o sadhaka (aquele que pratica) na obtenção de concentração durante a meditação. Eles também são utilizados como uma expressão de amor à deidade, uma outra faceta da Bhakti Yoga necessária para a compreensão de murti. Frequentemente eles oferecem coragem em momentos difíceis e são utilizados para a obtenção de auxílio ou para “invocar” a força espiritual interior.
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Embora originalmente ligadas ao Samkhya, uma tradição naturalista e praticamente ateísta do hinduísmo, as práticas do Yoga foram incorporadas com muito vigor pela religião tradicional indiana. Quase todas as antigas escrituras, inclusive os Vedas, citam direta ou indiretamente as práticas do Yoga, definindo seu papel diante a busca do moksha. O Yoga é definido em três tipos distintos:

YOGA DA AÇÃO (Karma Yoga): Segundo a definição do "Bhagavad Gita", a definição do Karma Yoga é “agir segundo suas obrigações (dharma) sem esperar ganhos”, ou seja, agir de boa fé sem esperar nada em troca. Nas escrituras, o deus Krishna descreve a Nishkam Karma, ação sem desejos próprios, como principal caminho em direção à verdade absoluta. Segundo ele, as ações feitas sem a expectativa de qualquer benefício próprio gradualmente purificam a mente do indivíduo, de modo que, pouco a pouco ele começará a perceber o valor da ação por si mesma. Esse tipo de comportamento induz ao desapego do mundo material, conduzindo ao moksha.

YOGA DA DEVOÇÃO (Bhakit Yoga)Bhakit é descrita no "Bhagavad Gita" como devoção suprema a Deus, muito além do simples conhecimento religioso, mas diretamente ligada à libertação por meio da meditação, do trabalho religioso e da devoção.

YOGA DO CONHECIMENTO (Jnana Yoga): Segundo "Bhagavad Gita", Jnana Yoga é o processo pelo qual, por meio do conhecimento, é possível identificar o que é real e o que não é, o que é eterno e o que não é. Esse é um caminho essencial para distinguir o corpo do espírito imortal (atman). Na obra, o deus Krishna aconselha o príncipe Arjuna a não se entristecer por aqueles que em batalha perderam a vida. Ele diz “nunca existiu um tempo em que eles não foram, nem existirá um tempo em que não vão ser. O espírito (atman) de todos os guerreiros é indestrutível. Eles passam de um corpo para outro, como uma pessoa deixa roupas gastas para utilizar roupas novas”.
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Além do hinduísmo, os textos védicos influenciaram outras religiões, que juntas formam o que historiadores classificam como o subgrupo maior das filosofias orientais: jainismo, budismo e sikhismo. Todas as quatro possuem similaridades em credos e modos de adoração, por terem uma origem em comum. Os ideais de paz e não violência também são uma busca única.
No jainismo – também chamado de jinismo – há uma semelhança extra com o budismo: a ausência de um Deus como figura central. Visto durante muito tempo como uma seita do próprio hinduísmo, tem suas origens por volta do século 5 a.C. e no sânscrito jin, que significa “conquistador”. Os jainistas devem combater as tentações para alcançar a libertação do mundo. Assim como o hinduísmo, essa religião propõe uma doutrina de não violência (ahimsa) para alcançar a purificação.
O budismo é mais recente, surge entre 563 e 483 a.C.. É uma religião baseada nos ensinamentos deixados por Sidarta Gautama, ou Sakyamuni (o sábio do clã dos Sakhya), o Buda histórico, que viveu no Nepal. A temática é a mesma: a busca da purificação e a paz interior, livrando-se das tentações, por meio das meditações.
O sikhismo foi fundado no final do século XV, na região do Punjab, atualmente dividido entre Índia e Paquistão. O sikhismo é uma mistura de hindus com muçulmanos, que resultou nesta religião monoteísta, que briga um novo pensamento dos estudiosos por, ao longo do tempo, não apresentar traços mais claros nem do hinduísmo, nem do islã. O termo sikh significa em língua punjabi “discípulo forte e tenaz”. A doutrina básica do sikhismo consiste na crença em um único Deus e nos ensinamentos dos Dez Gurus do sikhismo, recolhida no livro sagrado dos sikhs, o Guru Granth Sahib, considerado o 11° e último Guru. Para o sikhismo, Deus é eterno e sem forma, sendo impossível captá-lo em toda a sua essência. Ele foi o criador do mundo e dos seres humanos e deve ser alvo de devoção e de amor por parte dos humanos. Para os sikhs, os homens ficam mais longe de Deus devido ao seu egocentrismo, que os deixam presos em um constante renascimento. Assim, não alcançam a libertação total do espírito, que seria uma união com a divindade. Para os sikhs, o karma é essencial. Ao fazer coisas boas, coisas positivas acabam lhe ocorrendo, permitindo uma vida melhor, além de ajudar na progressão do espírito. Se sua vida for feita de ações negativas, a reencarnação virá em formas de vidas consideradas inferiores. Existem cerca de 23 milhões de sikhs no mundo, 19 milhões deles na Índia, a maioria na região do Panjabi.
 Fonte: Índia - Os caminhos entre a fé e a modernidade, Escala


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