A EGRÉGORA
aconteceu com você de sentir-se particularmente feliz num lugar
qualquer, particularmente à vontade, sem razão aparente? Na floresta
povoada de claros-escuros cintilantes, sentiu, como o Conde de Gabalis, o
roçar sutil dos gnomos, dos silfos e das salamandras, hóspedes
espirituais desses locais? Após uma reconfortante reunião, você saiu
satisfeito, sentindo-se em união perfeita com todos? Quanto a mim,
lembro-me de um concerto de danças caucasianas, onde a sala inteira
encontrava-se unida como um só ser. Lembro-me de um extraordinário solo
de Heifetz no silêncio religioso de quinhentas
respirações
suspensas ao som cristalino do violino, silêncio que permaneceu por
alguns segundos após a última nota do virtuose, antes da explosão das
aclamações.
Por
outro lado, aconteceu com você de sentir-me oprimido ao pisar nos
restos dos campos de concentração, nos campos de batalha de Oradour-
sur-Glane? Diz-se que o sangue dos mártires de todas as ideologias clama
ao céu sua dor e que a imagem dos acidentes impregna os cruzamentos
onde se produziram. No metrô parisiense, que transporta tantos espíritos
heteróclitos e libera uma infinita tristeza, quantos têm o coração
apertado pela atmosfera que lá impera e pela morosidade dos viajantes
que nos cercam; privados também da "bolha de ar" necessária ao bem-estar
de nossa aura, sufocamos.
Esses estados de espírito podem vir de nossa percepção da egrégora do lugar.
Que é uma egrégora?
Ao
se reunirem, os seres formam, pela união de sua vontade, um ser
coletivo novo chamado Egrégora. La Voix Solaire (A Voz Solar) em seu
número de março de 1961, dava-nos a seguinte definição: "Egrégora,
reunião de entidades terrestre e supra-terrestres constituindo uma
unidade hierarquizada, movidas por uma idéia-força".
Esta
palavra poderia originar-se no grego "egregoren", que significa
"velar". No Livro de Enoch está escrito que os anjos que tinham jurado
velar sobre o Monte Hermon teriam se apaixonado pelas filhas dos homens,
ligando-se "por mútuas execrações".
Papus,
em seu Traité élémentaire de Science Occulte (Tratado elementar de
Ciência Oculta) introduz uma nova noção: As egrégoras são "imagens
astrais geradas por uma coletividade" (pág. 561).
Em
La Voie initiatique (A Via iniciática), Serge Marcotoune constata que a
energia nervosa se manifesta por raios no plano astral: "O astral está
cheio de miríades de centelhas, flechas de cores das idéias-força.
Sabemos que cada pensamento, cada intenção a que se mistura um elemento
passional de desejo, se transmite em idéia- movimento dinâmica,
completamente separada do ser que a forma e a envia, mas seguindo sempre
a direção dada. As idéias-força são os elementos mais elementares do
plano astral; elas seguem sua curva traçada pelo desejo do remetente".
(pág. 195) É por isso que precisamos controlar nossos desejos a fim de
que eles não pesem sobre nós, acorrentando-nos, imprimindo à nossa aura
cores diferentes. A meditação e a prece do iniciado regeneram-no,
permitindo-lhe emitir idéias sadias e tranqüilizantes. No astral, os
"spiritus directores", os espíritos-guias, canalizam as idéias-força
para zonas determinadas.
Em
La Clef de la Magie Noire (A Chave da Magia Negra), Stanislas de Guaita
analisa a história da Convenção, desmascarando as entidades homicidas
coletivas e os atos sanguinolentos delas decorrentes (pág. 324). De
fato, no mundo astral as coisas semelhantes aglutinam-se para criar um
coletivo, graças às suas vibrações idênticas. A
egrégora,
ser astral, possui seu centro e seu eixo nesse plano e busca um ponto
de apoio terrestre para assegurar-se das formas estáveis.
O
iniciado aproxima-se assim dos seres superiores e elevados. No astral
nascem os germes das grandes associações, das grandes amizades, das
proteções. Em constante modificação, em evolução, as formas das
egrégoras são, na maior parte do tempo, efêmeras. As egrégoras não
possuem ponto de apoio. Elas podem obstruir nosso caminho ou ser
utilizadas por um operador.
Marcotoune
escreve: "As egrégoras que podemos considerar como prontas formam uma
classe à parte. São as egrégoras da cadeia iniciática ou das grandes
religiões. Elas servem à obra sacrifical de expiação do Filho de Deus
para salvar a humanidade. São dirigidas diretamente pelos seres
reintegrados e pela vontade divina. Situadas no cume do plano astral,
perdem-se na fusão com os planos espiritual e divino". (pág. 206) Elas
realizam o destino cósmico de todo o universo.
Os antigos...
Basta
que o mundo invisível seja um poderoso auxiliar para os seres humanos,
para convencê-los de ler os textos antigos. Se os homens criaram mitos,
foi porque se viram confrontados com forças imensas, incompreensíveis,
dissimuladas nas profundezas ocultas da Natureza. Sabiam que
cotidianamente eram travados combates na terra e no céu.
Zeus
luta contra os Titãs; Rama combate os demônios gigantescos do Ramayana;
Krishna ajuda o guerreiro Ariuna em seus embates com a Vida, os
exércitos vindos do invisível são confrontados com os do manifesto. No
Règlement de Guerre (Regulamento da Guerra) dos essênios, vê-se o mundo
angélico inteiro empenhado na batalha terrestre. Na China, o Culto dos
Ancestrais estabelecia um equilíbrio ente a Terra e o Céu por meio da
Egrégora familiar astral. Papus cita Ovídio no Traité Elementaire de
Science Occulte: "Quatro coisas devem ser consideradas no homem: os
manes, a carne, o espírito e a sombra. Essas quatro coisas são colocadas
cada uma em seu lugar: a terra cobre a carne; a sombra flutua em redor
da tumba, os manes estão no inferno e o espírito voa para o céu" (pág.
404). Os egípcios pensavam que não só o ser humano possui um duplo
(Kha), mas também todos os animais e todas as coisas em que a vida se
faz sentir: as cidades, as províncias, as nações. Henri Duville o
observa na sua A Ciência Secreta (La Science secrète)
E nós...
Estamos
convencidos, como Beaudelaire que: "A Natureza é um templo onde
viventes pilares Deixam às vezes escapar confusas palavras, O homem nela
passa através de florestas de símbolos Que o observam com olhares
familiares..."
Somos
convidados com insistência a decifrar o que está oculto (ocultismo), a
descobrir o que está fora das coisas (esoterismo), a aprofundar o que
nos espanta porque, diz Aristóteles, "do espanto vem a Sabedoria".
A
noção de Egrégora libera dos grilhões religiosos. Na verdade somente o
Amor ao Bem e à Verdade, somente nossa ação e nosso Coração nos
conduzirão à família espiritual que nos corresponde, segundo a densidade
de nosso espírito.
Como
Swedenborg, viajaremos em grupos unidos, sendo ensinados pelos diversos
grupos de anjos que formam sociedades à parte, elas próprias
reagrupadas em um grande corpo porque, diz ele, "o céu é um grande
homem". Paulo, na Epístola aos Romanos (12) e em 1 Coríntios 12,
escreve: "Formamos um único corpo com o Messias"... "Sim, o corpo é um,
mas há vários membros e todos os membros do corpo, que são numerosos,
formam um único corpo". Tal é a comunhão dos Santos.
Jesus dissera: "Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, estarei entre eles".
No
Apocalipse, João faz os Anjos responsáveis pelas Nações intervirem,
porque somos responsáveis pelos erros coletivos cometidos. Ninguém pode
lavar as mãos, como fez Pilatos: guerras, fomes, massacres diminuem
nossa liberdade, porque participamos da
egrégora
da terra; da mesma forma que os genes de nossa hereditariedade marcam a
história de nosso corpo. Segundo a Bíblia, cidades inteiras foram
punidas por causa de sua egrégora envenenada. Phaneg escreveu: "Todo
coletivo constitui na verdade uma família no espiritual e tem seu chefe.
É a este chefe que o Espírito fala..."
Compreende-se,
nessa ordem de idéias, que jamais se deve responder ao ódio como ódio,
porque então as duas egrégoras selariam uma aliança estreita para nossa
maior danação. Devemos estar convencidos que nenhuma de nossas
aspirações para o Bem se perde e que nossa vida deve produzir
Idéias-força poderosas. É o segredo da prece dos "fracos". Se utilizamos
ritos é porque eles constituem um apelo às forças elevadas. Se
realizamos uma Cadeia de União, é para ligar o visível ao invisível num
campo magnético fechado onde as forças perpendiculares se projetarão.
Ela é ao mesmo tempo criadora e receptora; escudo protetor e receptor de
influências astrais e espirituais. As egrégoras são dinamização das
auras num objetivo preciso.
Todo
o esforço da vida iniciática tem por meta utilizar, da melhor maneira
possível, nossa vida, nossos ímpetos, nosso amor, para equilibrá-los e
fazer deles uma base sólida num esforço de continuidade e de ascensão.
Metamorfoseemo-nos pela mutação de nosso coração; é a via cardíaca martinista.
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