Ressentimento
é uma mágoa crônica. Na verdade, a palavra ressentir quer dizer
“deixar-se sentir novamente” ou voltar-se ao sentimento passado. As
criaturas suscetíveis às ofensas são aquelas que guardam rancor
facilmente, remoendo o insulto e intensificando os efeitos debilitantes
do ressentimento e da raiva.
Quando estamos melindrados,
experimentamos sucessivas vezes o mesmo sofrimento. Isso nos consome
energeticamente e debilita nosso corpo físico e espiritual.
Perdoar é um ato de amor, em que reina a
compreensão e a humildade. É um indício do amor a nós mesmos e aos
outros. No momento em que perdoamos, nos identificamos com nosso
próximo; admitimos a nossa falibilidade humana, reconhecendo nossas
deficiências e nossa facilidade em errar. Perdoamos na medida em que
desfazemos a ilusão de que somos perfeitos. Sabemos que nosso grau de
conhecimento é resultante de nossa participação e interação nos
processos do Universo. Nossas múltiplas existências nos levam
gradativamente à autoconscientização de que todas as coisas estão
interligadas. Não somos criaturas isoladas, e sim parte de uma complexa
rede da Vida. Estamos vivendo juntos, porém em diferentes níveis de
amadurecimento e precisamos, todos, de muito perdão durante o processo
evolutivo, precisamos perdoar a nós mesmos e aos outros.
Admitir nossas falhas e não se ressentir é
uma fórmula poderosa para remover os obstáculos à boa convivência. Não
seria tempo de nos libertarmos dos ” cárceres” do rancor e da mágoa?
Certamente, parte da nossa dificuldade em
pedir desculpas se deve ao problema que temos com a realidade interior.
Para chegar ao momento de nos desculparmos, devemos antes ser humildes
ou honestos conosco, admitindo as nossas limitações e inadequações de
seres espirituais em regime de crescimento e de permuta constante.
A humildade e o perdão caminham juntos.
Eles nos levam às trilhas da compreensão dos equívocos e erros
existenciais. Aliás, os enganos são oportunidades de aperfeiçoamento e
amadurecimento para todos; são experiências para aprendermos a viver
melhor.
Costumamos confundir, erroneamente,
humildade com servidão, submissão e covardia. Ela é, sobretudo, “a
lucidez que nasce das profundezas do Espírito”.
A humildade não está relacionada com o
nosso aspecto exterior, mas com a maneira como percebemos as pessoas e
as circunstâncias . É a habilidade de ver claramente, sem defesas ou
distorções, pois nos limpa a visão e nos livra dos falsos valores. Com
“olhos humildes”, entendemos que perdoar é atitude que requer mudança de
nossas percepções, quantas vezes forem necessárias. Nossa visão atual é
prejudicada pelas percepções do ontem sobre o nosso hoje, visto
ficarmos quase sempre presos aos “fatos do passado”, permitindo que
“lembranças amargas” escureçam o presente, mesmo anos depois de terem
ocorrido. “Compreender perdoando” significa que somos capazes de mudar
nossas velhas convicções e perceber novas evidências da verdade em
nossas atitudes e nas alheias. Dessa forma, ficamos mais flexíveis e
menos exigentes para com o comportamento dos outros.
Quem compreende e perdoa possui uma
“visão cósmica” da Vida, porque ampliou sua consciência. Ela representa a
faculdade de ver as criaturas e a criação como uma coisa só; expressa
uma visão de existência estruturada sobre uma concepção de unidade.
Os indivíduos que “melindram-se com as
críticas das quais suas comunicações podem ser objeto; se irritam com a
menor contrariedade” são considerados dogmáticos, quer dizer, pessoas
que rejeitam categoricamente qualquer opinião ou parecer, cultivando um
ponto de vista de “certeza absoluta”.
Não temos habilidade de entender tudo de
início, precisamos constantemente revisar nossa maneira de ver, a fim de
ampliar conceitos. O dogmático não perdoa, porque lhe falta a clareza
de visão que a humildade proporciona.
Guardando melindres e irritação,
desorganizaremos os tecidos sutis de nossa alma e intoxicaremos, por
conta própria, a vestimenta corpórea.
Para termos sanidade plena, é preciso que
nossas energias estejam harmonicamente compensadas. Somos seres
essencialmente energéticos.
Assim como uma barra de ferro se imanta
quando da proximidade de um imã, da mesma forma uma criatura pode atrair
energias conforme seu padrão vibratório.
Na vida não existe fatalidade, apenas
sintonia. Não precisamos ser exatamente iguais aos outros, basta termos
afinidade para que ocorra o fenômeno de atração magnética.
Perdoar não significa que devemos ser
coniventes com os comportamentos impróprios, nem aceitar abusos
desrespeito, agressão ou traição, mas é uma nova forma de ver e viver,
envolve o compromisso de experimentar em cada situação uma nova maneira
de olhar o que está acontecendo, ou como aconteceu, sem interferência
das percepções passadas. O perdão surge a partir de uma “visão cósmica”
do comportamento humano. O ato de perdoar não requer a reabertura de
velhas feridas, mas, sim, a sua cura. Transforma-nos em co-criadores da
nossa realidade, pois tem relação com a capacidade de escolhermos como
reagir às situações de nossa vida.
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