Novas descobertas sobre Tireoide
Esquemas terapêuticos fáceis de adotar, exames de última geração, novas conexões entre a glândula e problemas pelo corpo, sua influência durante a gravidez... Eis as descobertas que prometem mexer com o controle dos distúrbios tireoidianos.
HIPOTIREOIDISMO
1 - DÁ PRA TOMAR MEDICAMENTO JUNTO COM A COMIDA
Um dos empecilhos relatados por quem tem hipotireoidismo é a exigência de tomar o medicamento que repõe os hormônios da tireoide (o T3 e o T4) logo ao acordar, em jejum, cerca de 30 minutos antes do café da manhã. "A droga precisa de um pH mais ácido no estômago para ser absorvida. Se comemos, a redução da acidez diminui seu aproveitamento", explica a endocrinologista Camila Luhm Perez, da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Só que essa orientação nem sempre é seguida à risca: 30% dos indivíduos usam os comprimidos de maneira incorreta e, daí, chegam até a abandonar o tratamento. Pensando em driblar tal dificuldade, Camila conduziu um estudo em que 45 voluntários ingeriram o medicamento junto com a primeira refeição do dia. E o resultado, quem diria, foi satisfatório. "Houve um discreto prejuízo, mas nada que afetasse a saúde deles", relata. Diante do achado, a ideia é que se possa indicar o esquema alternativo a quem tem impedimentos em levantar mais cedo ou esperar um tempo para o desjejum.
2 - DOSE ÚNICA POR SEMANA
Em vez de um comprimido diário do hormônio, cientistas da UFPR estudam a criação de um fármaco cujo efeito duraria sete dias, um sonho de praticidade. Os primeiros testes, com indivíduos saudáveis foram bastante animadores.
3 - CÁPSULA EM GEL
Essa versão do hormônio evita a necessidade de jejum e seria absorvida mais facilmente. "Ela já está à venda na Europa, mas ainda não decolou nas prescrições", diz Geraldo Medeiros, professor de endocrinologia da Universidade de São Paulo (USP).
4 - ATÉ ANTES DE DORMIR
Essa é outra saída cada vez mais receitada. "Aconselhamos o uso do hormônio à noite a quem toma outros medicamentos de manhã", conta o professor Medeiros. Mas há um detalhe: o sujeito precisa aguardar duas horas entre o jantar e a cama.
5 - DUPLA COMBINADA
A levotiroxina, remédio contra o hipotireoidismo, concentra só o hormônio T4. É que o corpo fabrica, a partir dele, sua versão ativa, o T3. Mas algumas pessoas se sentem mal com a droga. Para elas, os médicos já discutem uma nova fórmula que alia T3 e T4 prontinhos.
6 - BAQUE NO CORAÇÃO
Uma pesquisa do Instituto de Tecnologia de Nova York, nos Estados Unidos, mostra que uma dose baixa dos hormônios tireoidianos ameaça o bem-estar cardíaco. "Os desfalques levam a contrações mais fracas e até lesões", conta Martin Gerdes, autor do trabalho. Restaurar os níveis de T3 e T4 evitaria o chabu.
7 - SE O COLESTEROL SOBE...
"Um em cada dez casos de colesterol alto tem o hipotireoidismo como plano de fundo", estima Elizabeth Pearce, endocrinologista da Universidade de Boston (EUA). Ela descobriu que metade das pessoas com níveis altos da gordura não checa a tireoide. "E tratar a disfunção ali pode baixar o colesterol".
8 - O DILEMA DA OBESIDADE
Outra investigação da Universidade de Boston revela que, ao contrário do que pensava, o tratamento do hipotireoidismo não faz o excesso de peso diminuir necessariamente. "Por isso é preciso abordar os dois problemas de forma simultânea", avalia o endocrinologista Cleo Otaviano Mesa Junior, do Hospital das Clínicas da UFPR.
9 - TEM QUE TER SELÊNIO
A falta do mineral, segundo uma pesquisa do endocrinologista Cley Rocha de Farias, do Hospital das Clínicas de São Paulo, propicia o hipotireoidismo. "Para atingir a quantia ideal de selênio, basta comer uma ou duas castanhas-do-pará por dia", indica. A substância ativaria enzimas que protegem e estimulam a tireoide.
10 - DIABETE, DESAFIO EXTRA
A Universidade Goethe, na Alemanha, fez um levantamento com dados de 1.900 diabéticos do tipo 2 e detectou que 27% deles tinham uma tireoide em marcha lenta. De acordo com os estudiosos, controlar as duas condições exige uma abordagem terapêutica cuidadosa, e uma não exclui a outra.
11 - PERIGO NO TRÂNSITO
Sujeitos com hipo descontrolado são tão perigosos ao volante quanto bêbados, diz estudo da Universidade do Kentucky (EUA). "E não devem dirigir enquanto não forem tratados", afirma Kenneth Ain, médico que assina a pesquisa.
12 - FRIO INEXPLICÁVEL
No instituto Karolinska, na Suécia, cientistas provaram que o T3 e o T4 controla a dissipação do calor pelo corpo. "Muita sensibilidade à temperatura pode ser sinal de problema na tireoide", avisa Jens Mittag, responsável pelo trabalho.
13 - DIVISÃO DOS POVOS
O Instituto Berghofer de Pesquisa, na Austrália, tabulou dados dos militares americanos por 14 anos e descobriu que o hipotireoidismo é mais habitual em caucasianos (brancos) e o hipertireoidismo atinge mais negros e asiáticos.
HIPERTIREOIDISMO
14 - MAIS TEMPO DE MOLHO
Pessoas com uma superprodução dos hormônios tireoidianos demoram mais para sarar de doenças em comparação com quem é saudável, conclui investigação da Universidade de Copenhague, na Dinamarca. "A disfunção abala a saúde física e reduz a disposição", justifica a médica Mette Andersen.
15 - NEM O XIXI ESCAPA
Na Universidade Médica de Taipei, em Taiwan, foi observado que dores e inflamações na bexiga acontecem com maior frequência em mulheres com a tireoide alterada. Em seu artigo, os especialistas alertam para que os médicos fiquem atentos a complicações urinárias nas pacientes com hipertireoidismo.
16 -DORZINHA NO OMBRO
Mais uma conexão curiosa descoberta na Universidade Médica de Taipei: informações sobre 1 milhão de asiáticos apontam uma íntima relação entre hipertireoidismo e capsulite adesiva, inflamação na articulação do ombro que causa dor e limita os movimentos. O motivo permanece um mistério.
17 - TRISTEZA NÃO TEM FIM
Experts do Centro Médico Erasmus, na Holanda, identificaram um elo entre hipertireoidismo e depressão após acompanharem 1.500 pessoas por oito anos. "Até alterações leves nos hormônios tireoidianos interferem nos neurônios e na liberação de serotonina, substância que traz a sensação de bem-estar", afirma Marco Medici, o líder do levantamento.
18 - CABEÇA DESAJUSTADA
"Você olha para o paciente com hipertireoidismo e percebe agitação, a fala rápida e a irritabilidade", observa a endocrinologista Tania Furlanetto, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. E um estudo do Hospital Universitário de Odense, na Dinamarca, comprova que o distúrbio aumenta a prescrição de antidepressivos e ansiolíticos, além de hospitalizações por causa de desordens psiquiátricas.
19 - OBESIDADE CAUSA TUMORES NA TIREOIDE?
Os médicos já sabiam que quilos extras favorecem o câncer em esôfago, rins, mamas, próstata... Agora, eles começam a desvendar a relação do excesso de peso com a replicação anormal de células da tireoide. Um estudo da Universidade de Ulsan, na Coreia do Sul, recolheu dados de 15 mil sujeitos que foram realizar checkups de rotina. Em meio aos exames, os participantes faziam um ultrassom do pescoço. Terminada a experiências, os cientistas viram que o câncer tireoidiano estava diretamente ligado a um índice de massa corporal (IMC) além do recomendado entre as mulheres. Esse foi o único fator que apareceu ser decisivo: idade e níveis altos de insulina ou TSH - o hormônio que o cérebro libera para incentivar a produção de T3 e T4, não mostraram papel na gênese da doença. Os achados na população coreana são vistos, contudo, com preucaução. "Ainda é cedo para sentenciar que a obesidade causa mesmo o câncer de tireoide", opina o cirurgião oncológico Luiz Paulo Kowalski, diretor do Departamento de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do A.C Camargo Cancer Center, na capital paulista. Enquanto não há um veredicto, controlar o peso continua sendo um objetivo importante para fugir de outras encrencas, na tireoide ou no resto do corpo.
20 - EXPLOSÃO DA DOENÇA
A detecção de nódulos na tireoide, incluindo os malignos, aumentou em todo o mundo. As estatísticas dão conta de que os casos sobem 6% ao ano, e a incidência do tumor dobrou em comparação com os anos 1970. Tal expansão é justificadas por ultrassonografias mais sofisticadas, capazes de detectar caroços com milímetros de diâmetro. A mortalidade, ainda bem, permanece baixa.
21- INVESTIGAR A FAMÍLIA TODA
Os testes que encontram mutações genéticas pró-câncer na glândula já são uma realidade. Se alguém tem um tumor grave de tireoide, a orientação hoje é que os seus familiares de primeiro grau vasculhem o DNA para averiguar se não possuem as mesmas falhas nos genes. "Se confirmada a mutação, a tireoide então é retirada em uma cirurgia", esclarece Kowalski.
22 - OPERA OU NÃO OPERA?
Quando o ultrassom flagra nódulos na tireoide, o passo seguinte é fazer uma biópsia que verifica se o caroço é benigno ou maligno. Mas, em 30% dos casos, o diagnóstico é incerto. Para resolver o impasse, chega ao Brasil o Afirma, teste que lê os genes e determina o perfil do tumor. "Com ele evitamos cirurgias desnecessárias", afirma Rosa Biscolla, endocrinologista do Fleury Medicina e Saúde.
23 - DEVAGAR COM O ULTRASSOM
O exame de imagem está potente e certeiro, mas só deve ser feito se houver suspeita, e não como rotina. A recomendação da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia parte do fato de que muitos nódulos são inofensivos.
24 - A GLÂNDULA NO ESPAÇO
O câncer de tireoide é uma das primeiras doenças estudadas na Estação Espacial Internacional. "A microgravidade permite entender melhore seus detalhes biológicos", explica a biomédica dinamarquesa Daniela Grimm, que esteve lá.
25 - SERÁ QUE ELE VOLTA?
Cientistas da Universidade de Sydney, na Austrália, mapearam trechos do DNA ligados ao redespertar de tumores na glândula. "Estamos criando um teste de sangue que prevê a reincidência", anuncia o pesquisador James Lee.
26 - NÃO SE ESQUEÇA DA TIREOIDE
Entre tantas prescrições, conselhos e avisos que a gestante recebe do médico, é frequente que os cuidados com a glândula fiquem em segundo plano. Pois não deveriam: de 6 a 9% das futuras mamães sofrem de hipotireoidismo e nem sabem. A falta dos hormônios T3 e T4 compromete seriamente a evolução neurológica do bebê. "Além disso, há maior risco de parto prematuro, baixo peso ao nascer, aborto e morte fetal", lista o médico José Augusto Sgarbi, diretor da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Regional São Paulo). O tópico é tão sério que a entidade vai lançar um consenso para o diagnóstico e o tratamento das disfunções tireoidianas na gravidez. "Entre as novidades, pediremos o rastreamento de problemas na glândula no trimestre inicial da gestação", adianta. Será uma das primeiras recomendações formais do gênero feita no Brasil. E fica o convite para as mulheres investigarem se anda tudo bem com a tireoide antes mesmo de engravidar.
27 - AINDA MAIS PERIGOSO
Existem situações em que a grávida precisa ter o dobro de atenção: idade superior a 35 anos, histórico de diabete, obesidade, uso prévio de levotiroxina ou presença de outras doenças autoimunes, como lúpus e psoríase. "Se há diagnóstico de problemas na tireoide, a mulher deve ser encaminhada ao endocrinologista. O tratamento é seguro para mãe e feto", tranquiliza Sgarbi.
28 - SUPLEMENTAR IODO?
A deficiência de iodo, o mineral que forma o T3 e o T4, é mais costumeira do que se imagina nas novas mamães: nos Estados Unidos, um terço delas não atinge as necessidades diárias. Tanto que a Academia Americana de Pediatria elaborou o primeiro documento endossando a suplementação do mineral. Porém, antes de recorrer às cápsulas, é essencial que a grávida converse com o seu ginecologista.
29 - AUTISMO MAIS COMUM
O hipotireoidismo eleva em quatro vezes a possibilidade de o bebê nascer com autismo. Essa foi a conclusão de um estudo no Instituto Neurológico Metodista de Houston (EUA) e do Centro Médico Erasmus (Holanda), que analisou mais de 4 mil gestantes. "Demonstramos que existe uma maneira eficaz de reduzir o risco de autismo: cuidar da tireoide", comemora o médico Gustavo Román, líder da investigação.
30 - VILÃO NO PLÁSTICO
O bisfenol, substância presente em alguns recipientes, desregula a tireoide na gravidez, mesmo em baixas concentrações, acusa pesquisa com ratos recém-concluída na Universidade Federal de São Paulo.
31 - BARREIRAS PARA OUVIR
Quando o hipotireoidismo passa de mãe para filho, sobra até para audição do pequeno. E, sem o desenvolvimento desse sentido, ele vai enfrentar dificuldades para se comunicar por fala e escrita. A denúncia vem de um trabalho da Universidade Federal da Bahia, que, avaliando 37 crianças com hipo, mostrou que 32% não iam bem na escola. Vale procurar o especialista para remediar o distúrbio o quanto antes.
32 - NUNCA É BOM DEMAIS
O hipertireoidismo também demanda muito cuidado durante os nove meses. "O excesso de T3 e T4 aumenta o risco de abordo e malformações fetais", alerta o endocrinologista Mario Vaisman, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Um artigo do Instituto de Educação e Pesquisa Médica da Índia listou outras ameaças se a doença não for controlada: pré-eclâmpsia, diabete gestacional e entraves ao crescimento do útero.
33 - RISCO NO PÓS-PARTO
A endocrinologista Maria Fernanda Barca, da Associação Europeia de Tireoide, constatou que as mães têm uma probabilidade sete vezes maior de ter hipo logo após dar à luz. "E os sintomas são confundidos com depressão", avisa. O sistema imune, que fica menos ativo na gestação, volta a trabalhar com tudo depois do nascimento. E pode agredir a própria glândula, que deixa de funcionar como antes.
Curiosidade: Leonardo da Vinci (1452-1519), mestre italiano que pintou a Mona Lisa, foi também o primeiro homem a reconhecer a tireoide e a fazer um desenho dela.
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