sexta-feira, 24 de agosto de 2018

DESPERTANDO O CONHECIMENTO - ÍNDIA: BERÇO ANCESTRAL DA FÉ

A MEDITAÇÃO O CAMINHO DO EQUILÍBRIO

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Uma das nações mais multiétnicas do mundo, a Índia é caracterizada por ser uma sociedade pluralista. Do hinduísmo, originário no subcontinente indiano, ao cristianismo, trazido pelos ingleses no período da colonização; passando por muçulmanos – cuja maioria se mudou para o Paquistão – e o judaísmo. As religiões indianas têm similaridades em credos, modos de adoração e práticas associadas, principalmente pela história de origem comum e influências semelhantes.

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“Hindu” é o nome em persa do rio Indo, e a maneira que essa palavra é escrita hoje é a mesma de quando foi encontrada pela primeira vez em persa antigo, no sânscrito védico Sindhu. O termo foi utilizado para designar aqueles que viviam no subcontinente indiano – ou além do “Sindhu”. Frequentemente chamado de Sanatana Dharma por seus praticantes, em sânscrito “a eterna lei”, o hinduísmo engloba a crença na alma universal e na divisão do mundo, cultural e religioso, ordenado por castas. Suas raízes estão diretamente ligadas às seitas védicas da Idade do Ferro na Índia, quando as primeiras escritas sânscritas surgiram e foram consideradas sagradas.
Sem um fundador, o hinduísmo é citado como a mais antiga tradição religiosa ainda vigente na Terra. É uma das poucas que manteve sua tradição mesmo com o passar dos tempos, motivo pelo qual cerca de um bilhão de fiéis se declaram hindus oficialmente. A terceira maior religião do mundo, atrás apenas do cristianismo e do islamismo tem grande influência em outros locais também colonizados pelo Reino Unido, como Estados Unidos, Canadá e Trinidad e Tobago (além dos próprios britânicos). Os escritos sânscritos são mais traduzidos para o inglês.
Os hinduístas acreditam na existência de um espírito cósmico, em que divindades são adoradas nos cultos por meios de manifestações corporais do Deus supremo, Brahman. Também tem destaque a trimurti, trindade constituída por Brahma, Shiva e Vishnu. Os hindus baseiam sua fé através de shruti e smriti (“que escuta” e “que recorda”, respectivamente) e são guiados pelos textos védicos, escritos sagrados que formam a base dos conhecimentos hinduístas.
Atualmente, o hinduísmo pode ser dividido por algumas correntes principais. Dos seis darshanas (divisões históricas originais), apenas duas escolas, Vedanta e Yoga, permanecem ativas. As principais divisões do hinduísmo hoje em dia são o vishnuísmo, o shivaísmo, o smartismo e o shaktismo. A imensa maioria dos hindus atuais podem ser categorizados sob um destes quatro grupos, embora ainda existam outros, cujas denominações e filiações variam imensamente.
Segundo alguns estudiosos, o hinduísmo pode ser dividido em: popular (baseado nas tradições locais e no culto às divindades tutelares), dármico (tradução de “moral diária” e baseado na noção de carma, astrologia e manutenção do sistema de castas e costumes de casamentos), vedanta (segue o Advaita), Bhakti (traduzindo: “devocionalismo”, especialmente o vishnuísmo), o Hinduísmo Bramânico Védico (seguindo à risca o modelo praticado pelos brâmanes tradicionais) e o iogue (baseado no “Yoga Sutras”, livro que apresenta o Yoga e suas técnicas de concentração para se livrar do mundo material).
Marcado pela diversidade étnica e cultural, o hinduísmo evolui gradativamente através dos tempos. Por isso, é normal ver de inovações radicais em cultos pequenos até a assimilação de tradições vistas como ultrapassadas. Há uma variedade de tradições e, muitas vezes, a separação do hinduísmo do budismo e jainismo depende mais dos próprios fiéis do que realmente é os textos e tradições.
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A busca de todo hindu é por melhorar seu estado de espírito e alcançar algo além de sua existência, geralmente por meio da meditação e do Yoga. Os hinduístas têm uma crença na não utilização da violência, o amor às criaturas vivas (segundo a qual todas de fato possuem uma essência divina), a reencarnação e o karma.
Todo hinduísta também precisa alcançar quatro objetivos em sua vida, chamados de purusharthakama, artha, dharma moksha. É dito que todos os homens seguem o kama (prazer, físico e emocional) e artha (poder, fama e riqueza), mas brevemente, com maturidade, eles aprendem a controlar estes desejos com o dharma, ou a harmonia moral presente em toda a natureza. O objetivo maior é infinito, cujo resultado é a absoluta felicidade, moksha, ou liberação (também conhecida como Mukti, Samadhi, Nirvana, entre outros) do samsara, o ciclo da vida, morte, e da existência dual.
A vida humana também segue uma lógica de ashramas (fases): Brahmacharya, Grihasthya, Vanaprastha Sanyasa. No Brahmacharya, que acontece no primeiro quarto de vida, os hindus devem passar em celibato, sobriedade e contemplação da vida através de um Guru. Somente assim ele ficará pronto para o restante de sua vida. No Grihastya, o hindu se transforma no chefe de família. É conhecido como Samsara, quando a pessoa se casa e se estabelece como adulta. No Vanaprastha, o indivíduo vai aos poucos se livrando do mundo material, passando responsabilidade aos filhos e dedicando mais tempo à vida religiosa. No Sanyasa, a pessoa encerra sua vida reclusa, para assim encontrar a divindade através da meditação, e se liberar do corpo para a próxima vida.
O hinduísmo tem origem incerta, pois suas menções são anteriores aos registros históricos. De certo, apenas a existência de sânscritos védicos, cuja aparição se firma entre 4 e 6 mil anos a.C.. Ao todo, as escrituras sagradas formam as seis escolas filosóficas ortodoxas hindu, a astika, ou “aqueles que aceitam a autoridade dos Vedas”. As seis escolas são Uttara Mimamsa ou Vedanta, Nyaya, Vaisheshika, Sankhya, Yoga e Purva Mimamsa – também denominadas Mimamsa. Vale ressaltar que a escola Uttara Mimamsa (Vedanta) ainda possui três ramificações, Puro monismo: Advaita Vedanta, Monismo qualificado: Vishistadvaita Vedanta e Dualismo: Dvaita Vedanta. É a partir dos ensinamentos e métodos dessas seis escolas que os hindus direcionam sua fé e adoração. Mas é importante lembrar que existem outras vertentes, não reconhecidas pelos ortodoxos, porém de grande apelo: a Escola devocional Bhakti e o Tantrismo.
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 Fascinante ao mundo ocidental, os hinduístas se utilizam de muitas formas para simbolizar sua fé. A mais popular delas é o puja, um ritual de devoção, geralmente a uma imagem religiosa, com canções ou citações de orações em mantras. A busca simbólica pelo encontro com Deus é auxiliada por canções e rituais. Por isso, o simbolismo é tão presente na cultura hindu e o elemento ahimsa (não violência) faz com que se compreenda alguns de seus princípios. Influenciado pelo jainismo, a prática do veganismo se dizimou entre a população, como modo de respeitar formas superiores de vida, restringindo a dieta em plantas e vegetais.
Cerca de 30% dos hindus, a maioria de comunidades ortodoxas, que influenciam novas gerações, são vegetarianos. Não comer carne não é um dogma, mas é recomendado como sendo um estilo de vida purificador. Alguns, contudo, vão mais longe e evitam até produtos de pele. A explicação histórica é plausível. O povo védico e muitas gerações de hindus ao longo dos séculos dependiam da vaca para produzir todos os tipos de produtos lácteos, além da aragem dos campos e matéria-prima para o fertilizante. O status de “cuidadora” cresceu ao ponto do animal ser identificado como uma figura quase maternal.
Com isso, figuras símbolo da cultura hindu tiveram relação com os bovinos. Krishna é tanto retratado como um pastor de vacas, como um protetor delas. O assistente de Shiva, Nandi, é um touro. O vegetarianismo é seguido à risca, mas há hindus que comem carne. Entretanto, o consumo é proibido em cidades santas. Ortodoxos lutam para que se combata o consumo de carne bovina em toda a Índia.

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Origem do hinduísmo e principal fator que motivou seu crescimento na Índia, os textos hindus foram constituídos por meio do estudo e da leitura dos sânscritos védicos em três níveis: físico material, sutil ou sobrenatural. São duas categorias principais: os shruti (que escutam) e os smriti (que recordam). Apesar dos Vedas serem um dos mais antigos textos religiosos do mundo e também influenciarem o budismo, o jainismo e o sikhismo, a maioria dos fiéis jamais o leu. São quatro edições: Rig Veda, Sama Veda, Yajur Veda e Atharva Veda. Todos eles contêm hinos, encantamentos e rituais na Índia antiga.
Os conhecimentos, a reverência e a noção abstrata (Veda significa “conhecimento” em sânscrito) estão profundamente disseminados entre os hindus através de escrituras sagradas importantes: "Bagavad Gita", "Mahabharata", "Ramayana", "Upanixades", "Vedanta Sutras", "Yoga Sutras" e "Devi Mahatmya". Além deles, há também os "Puranas" (smriti), ensinamentos passados de pai para filho oralmente. No total, são 18 principais, escritos na forma de versos. O hinduísmo não venera vários deuses, como se imagina olhando de longe. Mas mesmo assim, comparado ao catolicismo, há adoração a diversas imagens que representam Brahma. As estátuas ou fotografias não são o próprio Deus, mas sim uma via para se comunicar com ele.
Os hindus acreditam em uma origem única sem forma ou um deus pessoal, cuja verdade pode ser vista de diferentes formas para pessoas variadas. O religioso é encorajado a descrever e se envolver em um relacionamento pessoal com sua deidade escolhida (chamada de ishta devata). A maioria dos hindus adora muitos deuses como expressões variadas do mesmo prisma da Verdade. Entre os mais populares estão Vishnu (como Krishna ou Rama), Shiva, Devi (a Mãe de muitas deidades femininas, como Lakshmi, Sarasvati, Kali e Durga), Ganesha, Skanda e Hanuman.
Recitação e mantras tiveram origem no hinduísmo e são técnicas utilizadas até os dias atuais, a maioria através de japa (repetições). Dizem que os mantras, com seus significados, sons e recitações melódicas, auxiliam o sadhaka (aquele que pratica) na obtenção de concentração durante a meditação. Eles também são utilizados como uma expressão de amor à deidade, uma outra faceta da Bhakti Yoga necessária para a compreensão de murti. Frequentemente eles oferecem coragem em momentos difíceis e são utilizados para a obtenção de auxílio ou para “invocar” a força espiritual interior.
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Embora originalmente ligadas ao Samkhya, uma tradição naturalista e praticamente ateísta do hinduísmo, as práticas do Yoga foram incorporadas com muito vigor pela religião tradicional indiana. Quase todas as antigas escrituras, inclusive os Vedas, citam direta ou indiretamente as práticas do Yoga, definindo seu papel diante a busca do moksha. O Yoga é definido em três tipos distintos:

YOGA DA AÇÃO (Karma Yoga): Segundo a definição do "Bhagavad Gita", a definição do Karma Yoga é “agir segundo suas obrigações (dharma) sem esperar ganhos”, ou seja, agir de boa fé sem esperar nada em troca. Nas escrituras, o deus Krishna descreve a Nishkam Karma, ação sem desejos próprios, como principal caminho em direção à verdade absoluta. Segundo ele, as ações feitas sem a expectativa de qualquer benefício próprio gradualmente purificam a mente do indivíduo, de modo que, pouco a pouco ele começará a perceber o valor da ação por si mesma. Esse tipo de comportamento induz ao desapego do mundo material, conduzindo ao moksha.

YOGA DA DEVOÇÃO (Bhakit Yoga)Bhakit é descrita no "Bhagavad Gita" como devoção suprema a Deus, muito além do simples conhecimento religioso, mas diretamente ligada à libertação por meio da meditação, do trabalho religioso e da devoção.

YOGA DO CONHECIMENTO (Jnana Yoga): Segundo "Bhagavad Gita", Jnana Yoga é o processo pelo qual, por meio do conhecimento, é possível identificar o que é real e o que não é, o que é eterno e o que não é. Esse é um caminho essencial para distinguir o corpo do espírito imortal (atman). Na obra, o deus Krishna aconselha o príncipe Arjuna a não se entristecer por aqueles que em batalha perderam a vida. Ele diz “nunca existiu um tempo em que eles não foram, nem existirá um tempo em que não vão ser. O espírito (atman) de todos os guerreiros é indestrutível. Eles passam de um corpo para outro, como uma pessoa deixa roupas gastas para utilizar roupas novas”.
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Além do hinduísmo, os textos védicos influenciaram outras religiões, que juntas formam o que historiadores classificam como o subgrupo maior das filosofias orientais: jainismo, budismo e sikhismo. Todas as quatro possuem similaridades em credos e modos de adoração, por terem uma origem em comum. Os ideais de paz e não violência também são uma busca única.
No jainismo – também chamado de jinismo – há uma semelhança extra com o budismo: a ausência de um Deus como figura central. Visto durante muito tempo como uma seita do próprio hinduísmo, tem suas origens por volta do século 5 a.C. e no sânscrito jin, que significa “conquistador”. Os jainistas devem combater as tentações para alcançar a libertação do mundo. Assim como o hinduísmo, essa religião propõe uma doutrina de não violência (ahimsa) para alcançar a purificação.
O budismo é mais recente, surge entre 563 e 483 a.C.. É uma religião baseada nos ensinamentos deixados por Sidarta Gautama, ou Sakyamuni (o sábio do clã dos Sakhya), o Buda histórico, que viveu no Nepal. A temática é a mesma: a busca da purificação e a paz interior, livrando-se das tentações, por meio das meditações.
O sikhismo foi fundado no final do século XV, na região do Punjab, atualmente dividido entre Índia e Paquistão. O sikhismo é uma mistura de hindus com muçulmanos, que resultou nesta religião monoteísta, que briga um novo pensamento dos estudiosos por, ao longo do tempo, não apresentar traços mais claros nem do hinduísmo, nem do islã. O termo sikh significa em língua punjabi “discípulo forte e tenaz”. A doutrina básica do sikhismo consiste na crença em um único Deus e nos ensinamentos dos Dez Gurus do sikhismo, recolhida no livro sagrado dos sikhs, o Guru Granth Sahib, considerado o 11° e último Guru. Para o sikhismo, Deus é eterno e sem forma, sendo impossível captá-lo em toda a sua essência. Ele foi o criador do mundo e dos seres humanos e deve ser alvo de devoção e de amor por parte dos humanos. Para os sikhs, os homens ficam mais longe de Deus devido ao seu egocentrismo, que os deixam presos em um constante renascimento. Assim, não alcançam a libertação total do espírito, que seria uma união com a divindade. Para os sikhs, o karma é essencial. Ao fazer coisas boas, coisas positivas acabam lhe ocorrendo, permitindo uma vida melhor, além de ajudar na progressão do espírito. Se sua vida for feita de ações negativas, a reencarnação virá em formas de vidas consideradas inferiores. Existem cerca de 23 milhões de sikhs no mundo, 19 milhões deles na Índia, a maioria na região do Panjabi.
 Fonte: Índia - Os caminhos entre a fé e a modernidade, Escala


DESPERTANDO A CONSCIÊNCIA - A TRANSFORMAÇÃO PELA NÃO VIOLÊNCIA

O PRINCÍPIO DA NÃO VIOLÊNCIA EM ESCALA SOCIAL

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A humanidade conhece alguns místicos e muitos políticos – mas um místico-político, ou um político-místico, pareceria impossível. O místico trata das coisas de Deus e do mundo espiritual; o político interessa-se pelas coisas dos homens e deste mundo material – será possível conciliar esses dois mundos, tão distantes e, aparentemente, tão antagônicos?
De vez em quando aparece, aqui na terra, um homem cósmico dessa natureza, um homem que equilibra extremos e sintetiza antíteses aparentemente inconciliáveis. E a grandeza de Mahatma Gandhi não está em ter sido um grande místico, nem em ter sido um hábil político – está em ter equilibrado em sua alma dois mundos quase sempre desequilibrados em outros homens. Esse homem realizou na sua vida a grande síntese do espírito e da matéria, do fogo e da água. O Mahatma não é da Índia, nem do Oriente – ele é do mundo e da humanidade.
Com Gandhi aparece uma nova forma de ascese – a ascese da libertação, substituindo e aperfeiçoando a ascese da deserção. Quem deserta das coisas materiais mostra boa vontade – mas não prova verdadeira compreensão. Por que foge? Por que deserta? Porque se sente fraco e receia cair; mas o temor é escravizante. Plenamente liberto e livre é somente o homem que, depois de se consolidar definitivamente no mundo espiritual, volta ao mundo material sem se materializar; o seu reino não é daqui, mas ele ainda trabalha aqui, como se fosse o mais profano dos profanos. Somente um homem plenamente espiritual pode admitir aparências de materialidade sem desmentir a sua espiritualidade.
Quando, um dia, alguém sugeriu a Gandhi a ideia de abandonar o mundo profano da política e retirar-se em uma caverna para viver como místico, respondeu ele: “Eu trago essa caverna dentro de mim”. Quem consegue transferir a “caverna” externa dos místicos para o seu interior, refugiando-se nesse santuário quando sente necessidade, este atingiu a culminância da sua libertação “gloriosa liberdade dos filhos de Deus”.
 O PRINCÍPIO DA NÃO VIOLÊNCIA EM ESCALA SOCIAL

É sabido que o princípio de ahimsa, ou não violência, representa um fator central na vida de Mahatma Gandhi. Pergunta-se se esse princípio é aplicável a grupos sociais – ou se funciona apenas de pessoa a pessoa. Gandhi derivou essa doutrina da natureza individual do homem e conseguiu aplicá-la a grandes grupos sociais, e com surpreendente resultado.
Qualquer sociedade, sobretudo o Estado, é baseada no princípio da violência ou coação. Por detrás de toda a lei está a força policial ou militar, isto é, violência física em forma de multa, cadeia, inflição de sofrimento corporal e, finalmente, morte. Lei sem sanção não é lei eficiente. A própria igreja cristã, sobretudo no seu setor hierárquico-sacerdotal, é essencialmente violentista; penalidades, suspensões, excomunhões, cruzadas, inquisições, cominação de penas em vida e depois da morte – que é tudo isto senão política e diplomacia de violência? A intolerância dogmática é uma violência em roupagens eclesiásticas.
Ora, toda e qualquer violência é filha do egoísmo. Onde não há egoísmo não há violência. Todo grupo social, civil ou religioso, é produto de egoísmo. De maneira que temos de conceder, logicamente, que todo e qualquer grupo social, seja civil, seja religioso, está baseado no fator violência; quer dizer que não se guia pelo princípio básico do Evangelho e da espiritualidade, que é amor e benevolência. Qualquer grupo social tem de ser violento, egoísta, exclusivista, sob pena de deixar de existir como grupo. Qualquer sociedade vive graças à violência, e morre em virtude da não violência.
É esta a razão última porque Jesus não fundou sociedade (igreja), embora os teólogos lhe atribuam esse delito, degradando-o assim a um violentista, quando ele é o maior antiviolentista que a história conhece. Se Jesus tivesse fundado a sociedade eclesiástica, teria sido, quando muito, um bom teólogo e hábil codificador de preceitos e proibições – isto é, um homem talentoso e medíocre, mas nunca esse gênio cósmico que realmente foi e é.

VIOLÊNCIA É FRUTO DO EGOÍSMO

Toda a grandeza está na não violência – como toda a pequenez se revela na violência. Violência é a marca registrada da materialidade – benevolência é o sinete régio da espiritualidade. A violência está na razão direta da materialidade e na razão inversa da espiritualidade. A violência é o atributo inseparável do ego, que é essencialmente fraco, e por isso recorre à violência; onde há força não existe violência. Benevolência é o indício de força – violência é a prova de fraqueza.
A violência aparece em formas várias; a mais comum é a da violência material, que pratica atos violentos em forma física, como ferimento ou morte. Violência em forma mais civilizada se revela verbalmente, em forma de injúrias, maledicências, mentiras e difamações. A mais sutil, e por isso mesmo a mais perversa das violências, aparece na forma mental de ódio ou malquerença. As vibrações negativas do ódio envenenam em primeiro lugar seu próprio autor e produtor, e podem também causar graves danos ao objeto do mesmo, no caso que este seja alérgico às invisíveis ondas do ódio. Pretender abolir a violência sem primeiro abolir o egoísmo é o mesmo que querer evitar o efeito sem extinguir a causa.
Todas as organizações do nosso século, tanto civis como religiosas, acham-se ainda no plano evolutivo do tempo de Moisés; a lei do talião, “olho por olho, dente por dente”, é ainda o princípio básico das nossas sociedades. Pode haver indivíduos cristificados, mas não há sociedade crística: há apenas sociedades cristãs, quer dizer, grupos que hasteiam na fachada do edifício a bandeira de Cristo, mas praticam, à sombra dessa bandeira de benevolência, todas as violências.
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"BEM-AVENTURADOS OS MANSOS"

Entretanto, é fato que Gandhi movimentou muitos milhões de homens com esse espírito da não violência, e teve resultados os mais positivos, culminando na libertação política da Índia. Como explicar esse fato? Quando aparecem um ou mais indivíduos com elevada voltagem espiritual, torna-se possível o impossível: boa parte da sociedade, aliás, violenta, age como não violenta, e consegue-o em caráter mais seguro e duradouro.
“Bem-aventurados os mansos, porque eles possuirão a terra” – não representam estas palavras de Jesus, no Sermão da Montanha, a solene consagração do princípio da não violência? Quem é que possui, de fato, alguma coisa ou alguém? Aquele que se apodera violentamente dum objeto ou duma pessoa? Não! Possuir é, em última análise, uma atitude bilateral, da parte do possuidor e da parte do possuído; se o possuído não consente livremente em ser possuído, o possuidor não o possui plenamente; apenas o violentou. Possuir na verdade só se pode pelo amor, pela bondade, pela benevolência; os que possuem pela violência não possuem, de fato, aquilo que julgam possuir; possuem-no assim como alguém possui um cão acorrentado, ou como um estuprador possui a pessoa estuprada, como um tirânico ditador possui os seus súditos ou suas vítimas. Só o “manso”, o benevolente, o não violento, é que possui de fato.
O postulado básico para o nascimento de uma sociedade não violentista é, pois, este: que haja alguém plenamente liberto do violentismo do ego, e que esse alguém não somente se abstenha de qualquer espécie de violência material, verbal e mental (evitando fazer, dizer e pensar mal), mas que também seja mestre em substituir essa violência da malquerença pela benevolência da benquerença, que suplante o ódio pelo amor. No caso que exista numa sociedade número suficiente de pessoas dessa natureza, ou pelo menos uma de alta voltagem espiritual, é possível que a benevolência individual crie um ambiente de não violência social.

A POSTURA CRÍSTICA DE GANDHI

É necessário, antes de tudo, que o chamado mundo cristão tenha a sinceridade de confessar que, até hoje, não há número suficiente de indivíduos bastante crísticos para influenciar favoravelmente a sociedade cristã. A sociedade cristã de hoje, quer civil, quer religiosa, obedece ainda às leis de Moisés, e os chamados cristãos são melhores discípulos de Simão Pedro de espada em punho do que do divino Mestre que mandou embainhar a espada. Indivíduos isolados embainharam a espada – mas a sociedade continua de espada desembainhada, porque não pode haver sociedade sem espada, uma vez que o princípio de qualquer sociedade é o calcado sobre a ideia do ego, com todos os derivados e acessórios.
O melhor símbolo do nosso cristianismo organizado seria a espada, e não a cruz, porque esta significa benevolência, e aquela diz violência. A espada é, em geral, uma combinação de cruz e lâmina; e os cristãos costumam segurar o punho cruciforme da espada a fim de vibrarem a lâmina mortífera contra seus adversários.
Mahatma Gandhi, com o seu inexorável princípio de não violência, é, sem dúvida, um dos homens mais crísticos dos últimos tempos – e por isso mesmo se recusou a aceitar o nosso Cristianismo apenas cristão e nada crístico. Nele encontrou o Cristo um dos seus seguidores mais genuínos e autênticos.
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AS DIFERENTES MATEMÁTICAS DE MOISÉS E CRISTO

Estabeleceu Moisés a lei do talião, sintetizada nas conhecidas palavras “olho por olho, dente por dente”. Antes dele, vigorava a praxe da retribuição ilimitada do mal por mal; para vingar a morte de um membro da tribo, era exterminada sumariamente a tribo inteira do ofensor. Decretou Moisés que, para haver equilíbrio de justiça, fosse a punição proporcional à injúria: se alguém mata uma pessoa da minha tribo, eu mato uma pessoa da tribo dele, e estamos quites; se alguém me quebra um dente, eu lhe quebro um dente, mas não a dentadura toda; se me arranca um olho, eu lhe arranco um, mas não os dois, e estamos quites, porque ofensa compensa ofensa, uma dívida é neutralizada por outra dívida igual. É esta a matemática da lei mosaica; dois negativos (males) em sentido oposto dão zero negativo.
É evidente que essa matemática é totalmente horizontal, de ego a ego, por isso vê quitação no fato de o ofendido fazer ao ofensor o mesmo mal que dele recebeu. E, no plano horizontal, não está errada essa matemática; se fulano me deve “X”, e eu lhe devo “X”, ninguém deve nada, estamos quites. Ora, o plano mental e emocional, onde se movem as ofensas, obedece essencialmente ao mesmo critério do plano material; logo, uma dívida compensa outra dívida.
Aparece, porém, um homem que não se move apenas no plano horizontal – o profeta de Nazaré estabelece outra matemática, muito diferente da de Moisés. Declara, peremptoriamente, que um mal não é compensado por outro mal; que um negativo (mal) praticado pelo ofensor e outro pelo ofendido não se neutralizam mutuamente, mas se somam e dão dois negativos, e não zero, como na lei de Moisés.
O fato é que Moisés e Cristo consideram o mal de dois pontos de vista diferentes: Moisés toma como ponto de referência o direito, que é do ego humano; Cristo focaliza a justiça, que é Deus. O direito só conhece relação de homem a homem, de horizontal a horizontal; a justiça fala da relação do homem a Deus, de horizontal a vertical. Se fulano me ofende, e eu o ofendo na mesma medida, estamos realmente quites no plano horizontal, jurídico, onde se movem as relações de direito. Se fulano me ofende, é meu devedor; se eu o ofendo de modo igual, eu sou devedor dele – mas, neste caso, meu débito é anulado pelo débito dele.
Nesse sentido, Moisés tinha razão, e a lei do talião persiste até hoje no plano jurídico do direito, que é o plano de todas as sociedades organizadas; porque o direito é um produto do ego, e, por isso, não pode deixar de ser egoísta. Nenhuma sociedade, como já dissemos, tem por base a justiça, mas sim o direito. Só o indivíduo, nas suas relações com Deus, horizontal-vertical, é que pode guiar-se pela justiça.

A JUSTIÇA DO ESPÍRITO

O que Moisés estabeleceu é para uma humanidade infantil a soletrar o á-bê-cê na escola primária da evolução. Mas o que Cristo proclamou visa a uma humanidade adulta no curso universitário do espírito. Para Jesus, a ofensa, o pecado, não atingem primariamente o homem, mas sim a Deus; o mal que o ofendido sofre é um mal externo, mas o mal que o ofensor pratica é um mal interno; antes que o ofendido receba o impacto do mal praticado pelo ofensor, já este se vulnerou a si mesmo pelo fato de ter praticado o mal. Mas como a íntima essência do homem é Deus – “o espírito de Deus que habita no homem” – é evidente que todo mal deliberadamente praticado tem a ver com a justiça divina, e não apenas com os direitos humanos, reveste caráter horizontal-vertical, e não apenas horizontal-horizontal.
E é precisamente aqui que se encontra a razão última e mais profunda da diferença de atitude entre Moisés e Cristo, no tocante ao mal. Pode haver neutralização entre homem e homem, entre o ofensor humano e o ofendido humano, quando este também se torna ofensor, porque ambos operam no plano finito e horizontal – mas não há neutralização, e sim agravação e adição de males, quando consideramos o mal na perspectiva do horizontal humana para a vertical divina. Por isso, o Nazareno não permite de forma alguma a lei do talião, porque seria multiplicar os males, em vez de os destruir.
E Mahatma Gandhi foi, sem dúvida, um dos mais iluminados discípulos do Cristo, quando resolveu adotar por norma de vida o espírito do Sermão da Montanha: “Não vos oponhais ao maligno!... Amai os vossos inimigos! Fazei bem aos que vos fazem mal!”... Ultrapassou a matemática primitiva de Moisés – e compreendeu a matemática infinitesimal da Universidade do espírito do Cristo. Mahatma – essa “grande alma”...


Fonte: Mahatma Gandhi – O apóstolo da não violência, Huberto Rohden, Martin Claret


A história de Gandhi e da não violência no rap de MC Yogi:


BE THE CHANGE (THE STORY OF MAHATMA GANDHI)
(MC Yogi)

Dedicated
To all spiritual activists
Truth seekers and peaceful warriors
Worldwide
I regard myself as a soldier
Though a soldier of peace

Once upon a time, not long ago
There was a boy who would grow and become a great soul
He lived in India and his name was Gandhi
He believed in human rights and he fought for equality
He felt so strongly that he trained himself
Cause he realized first he'd have to change himself
He changed his clothes and decided to walk
Some days he practiced silence and refused to talk
When he was young, he studied to be a lawyer
And then he became a great spiritual warrior
He read from the scriptures of every religion
Came to the realization that we’re all God’s children
Because he understood that we’re all equal
He became a spokesman for the people
A karma yogi devoted to service
To spread truth and peace was his purpose

You gotta be the change that you wanna see
In the world
Just like Gandhi
Be the change that you wanna see
In the world
Just like Gandhi

Gandhi dedicated his life to the cause
Even when it meant breaking unjust laws
He often faced prison and incarceration
But that only strengthened his determination
He said he would make every sacrifice
But that he would never kill or take a life
He used his heart instead of his fist
And he taught non-violence as the way to resist
A peaceful soldier who used his mind
To fight for the rights of human kind
But not just people, animals too
And his basic teaching “God is Truth”
He joined Muslims, Sikhs, & Hindus
Christians, Buddhists, Jains, and Jews
All the many paths that lead into
The light that shines bright inside of me and you


You gotta be the change that you wanna see
In the world
Just like Gandhi
Be the change that you wanna see
In the world
Just like Gandhi

Gandhi taught "an eye for an eye" makes the whole world blind
And it takes more strength and faith to be kind
With that in mind, Gandhi took a stand
Against the foreign occupation of his land
When things got violent, Gandhi would fast
Not eating for days until the riots would pass
But the biggest event that made the British halt
Is when Gandhi-ji decided to harvest salt
The British Empire installed a salt tax
And stealing salt was an unlawful act
So Gandhi and his peeps took the streets
Ten thousand deep, they marched to the beach
But when they arrived, they were beaten with clubs
But they didn’t fight back, instead they chose love
The foreign military realized they were wrong
And eventually decided to go back home
You see, Gandhi-ji was a very great leader
But before all that, he was shy and meager
As a young child, he was just like you and me
Before he became Mahatma Gandhi
The word 'Mahatma', it means great soul
And its inside of us just waiting to unfold
If you follow your heart and act real bold
Next time it’ll be your story that’s told

You gotta be the change that you wanna see
In the world
Just like Gandhi
Be the change that you wanna see
In the world
Just like Gandhi


SEJA A DIFERENÇA (A HISTÓRIA DE MAHATMA GANDHI) -  Tradução

Dedicado
A todos os ativistas espirituais
Verdadeiros buscadores e guerreiros pacíficos
No mundo todo
Eu me considero um soldado
Mas um soldado da paz

Era uma vez, não há muito tempo
Um menino que cresceria e se tornaria uma grande alma
Ele morava na Índia e seu nome era Gandhi
Ele acreditava nos direitos humanos e lutou pela igualdade
Ele sentiu-se tão forte que se treinou
Porque ele percebeu primeiro que ele teria que se mudar
Ele mudou a roupa e decidiu caminhar
Alguns dias ele praticou o silêncio e se recusou a falar
Quando era jovem, estudou para ser advogado
E então ele se tornou um grande guerreiro espiritual
Ele leu as escrituras de todas as religiões
Chegou à constatação de que somos todos filhos de Deus
Porque ele entendeu que somos todos iguais
Ele se tornou um porta-voz das pessoas
Um iogue de carma dedicado ao serviço
Para espalhar a verdade e a paz foi o propósito dele

Você deve ser a mudança que você quer ver
No mundo
Assim como Gandhi
Seja a mudança que você quer ver
No mundo
Assim como Gandhi

Gandhi dedicou sua vida à causa
Mesmo quando isso significava quebrar leis injustas
Ele muitas vezes enfrentou prisão e encarceramento
Mas isso só fortaleceu sua determinação
Ele disse que faria todos os sacrifícios
Mas que ele nunca mataria nem tiraria vida
Ele usou seu coração em vez do punho
E ensinou a não-violência como a forma de resistir
Um soldado pacífico que usou sua mente
Para lutar pelos direitos do gênero humano
Mas não apenas pessoas, também animais
E seu ensinamento básico "Deus é a verdade"
Ele se juntou a muçulmanos, sikhs e hindus
Cristãos, Budistas, Jainas e Judeus
Todos os muitos caminhos que levam a
A luz que brilha bem dentro de você e de mim

Você deve ser a mudança que você quer ver
No mundo
Assim como Gandhi
Seja a mudança que você quer ver
No mundo
Assim como Gandhi

Gandhi ensinou que "olho por olho" faz o mundo inteiro cegar
E é preciso mais força e fé para ser gentil
Com isso em mente, Gandhi tomou posição
Contra a ocupação estrangeira de sua terra
Quando as coisas ficaram violentas, Gandhi seria rápido
Não comer por dias até os tumultos passarem
Mas o maior evento que fez a parada britânica
Quando Gandhi-ji decidiu colher o sal
O Império Britânico instalou um imposto sobre o sal
E o roubo de sal foi um ato ilícito
Então, Gandhi e seus seguidores tomaram as ruas
Dez mil homens marcharam para a praia
Mas quando eles chegaram, eles foram espancados
Mas eles não lutaram de volta, em vez disso escolheram amor
Os militares estrangeiros perceberam que estavam errados
E eventualmente decidiram voltar para casa
Você vê, Gandhi-ji foi um líder muito grande
Mas antes disso, ele era tímido e magro
Como criança pequena, ele era como você e eu
Antes de se tornar Mahatma Gandhi
A palavra 'Mahatma', significa grande alma
E está dentro de nós apenas esperando para desabrochar
Se você seguir seu coração e agir de verdadeira coragem
Da próxima vez será a sua história que foi dita

Você deve ser a mudança que você quer ver
No mundo
Assim como Gandhi
Seja a mudança que você quer ver
No mundo
Assim como Gandhi


EQUILÍBRIO E HARMONIA - YIN & YANG, O MOVIMENTO DA VIDA

A harmonia do Tao

YIN & YANG, O MOVIMENTO DA VIDA

Imagem relacionada

A harmonia do Tao é primordial, ativada pela passividade e inatividade. Mas, como o Tao é expresso no ser, ele gera um jogo intermutável e dinâmico de opostos: yin yang, a manifestação do Tao no mundo. Sua reciprocidade produz cada um deles como polaridades que fazem parte da existência.
yin refere-se a características como a leveza, a passividade, a feminilidade, a escuridão, o vale, o negativo, o não-ser. O yang refere-se a características como a rigidez, a atividade, a masculinidade, a clareza, a montanha, o ser.
Toda energia ativa é manifestada como a dualidade yin e yang. O não-ser acompanha o ser. O Tao manifesta-se como transformação devido à natureza polar fluida da energia. A energia não é estática. A segunda lei do movimento de Newton diz que para toda força existe uma contraforça oposta e de mesma intensidade. Os sábios taoistas acreditam que toda força age com seu oposto como potencial. Assim, se um governo pune severamente um determinado grupo, por exemplo, talvez venha a causar sua própria punição mais tarde, por aquele mesmo grupo. A força oposta e complementar acontece, às vezes, quando a noite sucede o dia, ou quando o inverno sucede o verão. Os sábios taoistas aprendem a ficar em harmonia com esses ciclos de atividade e inatividade.
yin e yang trazem um equilíbrio dinâmico de forças de movimento e repouso, de atividade e passividade, de modo que o ponto de equilíbrio sempre retorne ao centro, fazendo emergir a unidade dos opostos. Em muitas aplicações do Taoismo essa unidade é a fonte de orientação por onde o correto pode ser desenvolvido, quando se recorre à razão para definir as coisas.


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A PERCEPÇÃO DO YIN E YANG

yin e yang são construídos dentro de nosso processo de percepção. O contraste entre eles é absolutamente essencial para nos tornarmos capazes de notar as coisas. Nós percebemos as diferenças. Existe uma boa evidência experimental de que quando somos expostos ao mesmo, ou a um estímulo constante, paramos de observá-lo após um certo período de tempo.
Todos já vivenciamos isso com um barulho de fundo, como o ruído de um ar-condicionado ou aquecedor; por exemplo. No início, talvez fiquemos incomodados com o som, mas, depois de um tempo, ele deixa de ser percebido. Se sairmos da sala e retornarmos mais tarde, voltaremos a ouvir o barulho. A tendência mais comum é a de não notar algo a não ser que se observe uma diferença. A estabilidade leva a uma percepção vazia. Esse mesmo fenômeno ocorre tanto com os sons quanto com as cores, ou os cheiros. Para algo ser notado, ele precisa fazer alguma diferença. O Taoismo prevê isso, uma vez que tudo está relacionado ao seu oposto.
yin e yang estão tão atados entre si que suas formas puras se inverteriam no final. A troca de forças é uma lei dinâmica do Tao, uma propriedade misteriosa da interação yin-yang.


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INTERAÇÃO DE OPOSTOS

Na teoria psicológica amplamente aceita de como as crianças desenvolvem-se para a fase adulta, Jean Piaget propôs que o funcionamento intelectual maduro requer sair de nossa própria perspectiva para imaginar outra. Sem isso, o desenvolvimento intelectual atrofia e se limita. Para a pessoa madura e sensata, nosso ser não é o centro do universo. A reciprocidade é fundamental para entender a realidade. Incluímos nesta relação a compreensão das pessoas, coisas e fatos.
Piaget diz: "À medida que as crianças crescem, elas não pensam mais em expressões como 'em frente' ou 'atrás' em termos absolutos que indicam os atributos dos objetos. Em vez disso, elas começam a captar a natureza relacional de objetos no mundo. Um termo como 'estrangeiro' é interpretado não como uma propriedade absoluta de uma pessoa, mas como uma relação que é recíproca, de modo que se A é estrangeiro para B, B é estrangeiro para A. Em uma relação recíproca, o indivíduo é capaz de ver as coisas através do ponto de vista do outro, e não apenas do seu próprio."
Com isso, Piaget quis dizer o que o Taoismo vem sustentando há muito tempo: o ponto de vista maduro da realidade é baseado na compreensão das relações verdadeiras. Seja uno com a natureza intuitiva das coisas e o entendimento das relações acontecerá sozinho. Por meio da visão do yin e yang, o equilíbrio das relações como percepção passa a englobar também os pontos de vista dos outros.
O desenvolvimento na vida é interativo, não apenas uma via de mão única. Os pais influenciam seus filhos, e os filhos, em troca, exercem um efeito sobre seus pais. A sociedade influencia os membros, assim como os membros individuais podem realizar grandes mudanças na sociedade. Todos estamos em uma interação mútua dentro do fluxo.
Podemos intuir essas forças elementares quando cultivamos a sensibilidade correta. Ao seguir o fluxo do yin e yang, navegamos seguros pelo oceano da vida. Confie nessas forças e aceite o inevitável fluxo de vitalidade. O equilíbrio vem naturalmente. A relação entre yin e yang nos oferece uma compreensão inteligente da realidade.


Fonte: Taoismo no Dia a Dia, C. Alexander Simpkins e Annellen Simpkins, JBC


Uma canção clássica sobre a interação dinâmica dos opostos em direção à unidade:


MASCULINO FEMININO
(Pepeu Gomes / Baby Consuelo / Didi Gomes)

Ser um homem feminino
Não fere o meu lado masculino
Se Deus é menina e menino
Sou Masculino e Feminino

Olhei tudo que aprendi
E um belo dia eu vi

E vem de lá
O meu sentimento de ser
E vem de lá
O meu sentimento de ser
Meu coração
Mensageiro vem me dizer
Meu coração
Mensageiro vem me dizer

Salve, salve a alegria
A pureza e a fantasia
Salve, salve a alegria
A pureza e a fantasia