segunda-feira, 16 de outubro de 2017

DESENVOLVENDO O CONHECIMENTO - JUNG E AS MANDALAS - 'Carl Jung & A Ciência da Alma que Ilumina o Mundo das Sombras'

JUNG E AS MANDALAS



Carl Gustav Jung estudou a mandala e a utilizou em seu consultório. Constatou que seus pacientes melhoravam ou relaxavam com o uso da mesma. Ele dizia que as mandalas poderiam trabalhar a Psique, atuando no processo de autoconhecimento do cliente.

Ele  descobriu que as mandalas expressavam conteúdos interiores do ser humano. No seu estudo das manifestações do inconsciente, seus pacientes produziam de forma espontânea desenhos de mandalas, sem saber o que ela é ou o que estavam fazendo. Ele dizia que isso tende a acontecer com pessoas que progridem no seu processo de autoconhecimento e individuação.

Ficou muito interessado no símbolo mandálico taoísta chamado A Flor de Ouro, dizia que era um material trazido frequentemente por seus pacientes.

A Flor de Ouro é desenhada tanto como um ornamento geométrico regular, ou de cima, ou um borrão crescendo de uma planta. A planta com freqüência nasce da escuridão, possui cores ardentes e tem um botão de luz no topo.

Jung publicou um livro chamado “O Segredo da Flor de Ouro”, junto com Richard Wilhelm




Quando começou a  estudar as mandalas e sua manifestação no mundo oriental como instrumento de culto e de meditação, passou a desenhá-las.  Observando-as no mundo ocidental, descobriu o efeito de auto-cura que elas exerciam, inclusive em si mesmo.

Em seguida, passou a utilizá-las como método psicoterapêutico. E conclui que esses círculos mágicos da tradição cultural oriental, hinduísta ou budista, eram representações instintivas de um símbolo universal desenhadas desde os primórdios da humanidade.

A mandala nas tradições culturais hinduísta e budista-tibetana, aparece como instrumento de concentração mental.  O termo mandala, em sânscrito, indica “círculo” e ocorre para designar, de maneira genérica, uma figura circular, esférica, o círculo em um quadrado e vice-versa.  Foi Jung que introduziu o conceito de mandala na psicologia analítica.

Portanto, as mandalas podem expressar um potencial para a totalidade, como procede nas tradições religiosas hinduísta e budista-tibetana, podem ser empregadas como instrumento de concentração e como um meio para unir a consciência individual com o centro da personalidade.

Mandala na tradição hinduísta
A mandala tradicional hinduísta faz parte do ritual de orientação e do espaço sagrado central, que são: o altar e o templo. Ela é a passagem de um estado para outro, ou seja, do material ao espiritual. Seu centro é uma entidade; sua periferia é a perfeição. É um instrumento visual para a concentração ou meditação  que conduz à realização das formas sobrenaturais que se encontram na mandala.

Mandala na tradição budista
Essas figurações concêntricas das mandalas são imagens dos dois aspectos que são complementares e idênticos à realidade: o aspecto da razão original, que é inata nos seres humanos (e que utiliza imagens e idéias do Mundo material, ilusório) e o aspecto do conhecimento terminal produzido pelos exercícios físicos e mentais que são adquiridos pelos Budas (Iluminados) e que se fundem uns com os outros, na intuição do estado da mais alta felicidade possível, chamado Nirvana.Admite-se que esse estado mental é de grande liberdade e espontaneidade interior em que a mente humana goza de tranqüilidade suprema, pureza e estabilidade.

Mandala na tradição tibetana
Jung descobriu que as mandalas na tradição budista tibetana derivam do conhecimento religioso dos lamas. Essa expressão, lama, significa guru, na tradição hinduísta, mestre. Nesse sentido, os lamas consideram a verdadeira mandala uma imagem interior que, gradualmente, é construída nos momentos de equilíbrio psíquico perturbado ou quando um pensamento não pode ser encontrado e deve ser procurado, porque não está contido na doutrina sagrada.

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“Todo tipo de coisas me desviam para longe de minha ciência à qual eu acreditava estar dedicado firmemente. Através dela, queria servir à humanidade, e agora, minha alma, tu me levas para essas coisas novas. Sim, o mundo do meio, intransitável, multiplamente cintilante. Esqueci que cheguei a um mundo novo, que antes me era estranho. Não vejo caminho nem trilha. Aqui deverá tornar-se verdade o que acreditei sobre a alma, que ela sabia melhor seu próprio caminho e que nenhum desígnio lhe poderia prescrever um caminho melhor. Sinto que é tirado um grande pedaço da ciência. Deve estar certo, por amor à alma e por amor à sua vida. Dolorosa é apenas a idéia de que isto só aconteceu para mim e que talvez ninguém  consiga tirar alguma luz daquilo que eu produzo. Mas minha alma exige esta produção. Devo poder dizê-lo também só para mim sem esperança—por amor a Deus. Deveras um caminho duro. Contudo, aqueles eremitas dos primeiros séculos cristãos—o que faziam de diferente? E eram, por acaso,as piores e mais imprestáveis pessoas que viviam naqueles tempos? De modo nenhum, pois eram aqueles que tiravam a mais inexorável conseqüência da necessidade psicológica de seu tempo. Eles deixavam mulher e filhos, riqueza, fama, ciência—e se dirigiam ao deserto—por amor a Deus. Assim seja.” (Carl Gustav Jung, Livro Negro 3)

in:http://www.marcelodalla.com/2012/02/jung-e-as-mandalas.html

'Carl Jung & A Ciência da Alma que Ilumina o Mundo das Sombras'(Stephan A. Hoeller) 
"O tempo passou e o mundo mudou; os 'Sete Sermões' [de Jung] continuaram sendo um objeto de respeito e de interesse para seu antigo copista"... [Stephan Hoeller].

Treze anos depois, na distante Califórnia, os mortos "voltaram" a seu entusiástico admirador uma vez mais. Eles não vieram de Jerusalém, mas de Zurique, e apareceram num livro que havia acabado ser impresso pela Rascher Verlag, sob o título 'Erinnerungen Traume Gedanken' von C. G. Jung - ('Memórias, Sonhos e Reflexões').

Como uma cópia da pré-publicação tinha sido presenteada por um amigo suíço, nosso protagonista logo descobriu que o apêndice desse livro continha o texto em alemão dos misteriosos 'Sermões'. A página introdutória aos 'Sermões' encerrava uma estranha nota: "A ser publicada somente na edição alemã"...
"Uma vez mais o entusiasmo do escriba atingiu o seu pico. Veio-lhe a mente, com certa força, o pensamento de que o texto alemão deveria tornar-se cessível a muitas pessoas de bem que liam apenas inglês, e não deveriam ser privadas da experiência por essa razão".

Agora apresentava-se-lhe um trabalho um pouco menos romântico, porém ainda intrigante, que consistia em traduzir o original alemão para o inglês. Essa tradução foi impressa em caráter particular e distribuída a um número restrito de amigos pessoais, como a edição alemã original, pelo próprio Jung.

Por essa época, naturalmente, o velho sábio de Zurique e Kusnack havia deixado o palco de sua carreira terrena. Sua personalidade, ainda sujeita a especulação e falatório, já emergia com muito mais clareza do que anteriormente...
"A psicologia junguiana lentamente ganhava impulso fora do mundo de língua alemã, e os interesses espirituais não-convencionais de seu fundador já se encontravam em parte documentados pelo aparecimento de suas grandes obras sobre alquimia e sua investida gnóstica contra a teologia convencional na sua 'Resposta a Jó'.

No entanto, a tradução dos 'Sete Sermões' continuou sendo um assunto reservado a um texto a ser estudado por um pequeno número de pessoas com interesses no campo do gnosticismo e da psicologia de Jung.

Durante anos, essa foi a única tradução e, além disso, era quase desconhecida. Outro pequeno fragmento do trabalho concluía-se, mas o mistério persistia e o mundo das sombras estendeu-se por mais tempo...
"Em cada era da história humana existiram indivíduos imbuídos de uma qualidade especial de conhecimento ou Gnosis. Carl Jung foi um deles. Tal conhecimento, como ele repetidas vezes afirmou, não poderia ser encontrado nas tradições da ciência e da religião existentes em sua época, ou em qualquer outra"...

Havia apenas um caminho aberto, uma única opção; Jung precisou viver a experiência original. Essa experiência de Gnosis, a Urerfahrung (experiência arcaica original), como ele a chamou, levou-o ao mundo de sombras de Basilides e aos mortos inquiridores.

Mesmo enquanto vivia no mundo radiante e iluminado pela luz do sol de seus primeiros anos, ele nunca pôde escapar a uma condição que ele posteriormente descreveu como premonição de um mundo de sombras no qual não se podia escapar. Essa premonição certamente não constitui a experiência exclusiva de Jung, mas compartilhada até certo ponto por toda a humanidade...
"A natureza gnóstica da vocação humana evidencia-se pela presença em todas as pessoas de uma percepção desse mundo de sombras. Apesar de sua não-racionalidade e improbabilidade, o elemento transcendente de uma gnose interior encontra-se indelevelmente gravado no coração do homem".

Todas as trivialidades do mundo cotidiano, decorrentes da desatenção e da consequente ignorância, são incapazes de apagar a sua lembrança. A negação da Gnosis apenas afirma secretamente o seu poder. Como Meister Eckhart expressou: "Quanto mais o homem blasfema, mais louva a Deus"...

O estado de esquecimento da Gnose sempre carrega consigo um perturbador senso de privação, que não se aplacará até que seu único objetivo verdadeiro - e não os muitos falsos e enganosos - seja novamente encontrado.

Os antigos gnósticos, a partir de cujo mundo de sombras Jung produziu os 'Sete Sermões', costumavam dizer que todos os desejos de uma pessoa, todas as suas tentativas de obter estímulo, felicidade e amor a partir de algo ou de alguma experiência, não passam de uma inesgotável saudade [ou nostalgia] do Pleroma, a "plenitude do Ser", que é o verdadeiro Lar da Alma...
"Somente aqueles que descobriram o caminho de casa podem revelá-lo aos outros. Um homem que perdeu seu rumo revela-se um guia medíocre. O argumento igualitário de que os desinformados podem prestar serviço ao mundo desde que bem intencionados é invalidado por esse fato.

A longo prazo, só os que sabem podem prestar serviço útil, pois são eles que conhecem o caminho por tê-lo percorrido...

"Carl Jung era um curador de almas e um curador da cultura. O mundo raramente viu servidor mais eficiente da humanidade. Essa eficiência e essa sabedoria resultaram não de hereditariedade, ambiente, educação, mas do fato de ele ter percorrido o caminho que conduz à terra das sombras, onde reside o conhecimento secreto da Alma.

Trilhar essa estrada e encontrar o próprio objetivo significa ir contra o mundo e as noções do que é sensato e do que é provável...
"Certa vez, Jung escreveu que a imagem que temos do mundo somente corresponde à realidade quando o improvável tem lugar nela. É improvável que a ordem prevaleça sobre o caos e que o significado vença a falta de sentido. No entanto, o improvável acontece; ele é possível e não está fora do alcance. Num sentido muito verdadeiro, o improvável representa a verdadeira vocação, o destino autêntico do ser humano".

Pode-se dizer que é essa vocação que nos torna humanos, pois somos menos humanos na medida em que a negligenciamos ou ignoramos. As árvores e as flores, os pássaros e os animais que seguem o próprio destino são superiores ao homem que trai o seu...
"Este prólogo, agora em seu final, constitui um testemunho pessoal... Para o seu autor, os 'Sete Sermões' e a maneira pela qual um dia ele os descobriu foram e continuam sendo um grande símbolo de um curioso destino, ao mesmo tempo profundamente pessoal e totalmente universal".

A vida não foi nem poderia ser a mesma depois daquele mágico momento na aconchegante sala de leitura, na fria e nevada cidade de Innsbruck nos Alpes. 

Como um volume de escritura sagrada ou códice de fórmulas de poder que levam à transformação, as palavras transcritas do pequeno livro misterioso ['Sete Sermões'] mudaram o curso de uma vida. O porto seguro da ortodoxia havia perdido todos os seus atrativos e, com eles, os sistemas de crença e tradição de idade venerável.

A perda da fé e das lealdades convencionais bem poderia ter trazido consigo os sinais do desenraizamento espiritual, tão característico daqueles que substituem a fé pelo pensamento e a tradição pela busca. Como, num momento como esse, um indivíduo pode condenar-se prontamente ao destino do 'Holandês Voador' [de Wagner] e navegar incessantemente de cá para lá no oceano da vida, aterrorizado por suas tempestades e fascinado por suas calmarias, enquanto busca um porto jamais encontrado!
"Esse não poderia ser o destino de uma pessoa que entrou em contato como espírito de Jung e dos gnósticos; tal não será a sorte de quem entrar no mundo encantado das sombras arquetípicas armado com a espada da Gnosis"...

A partir de uma premonição, a vida criou ma realização e uma experiência. Assim é com frequência; as realidades, a princípio não mais do que uma intrigante, mas longínqua visão, revelam-se mais próximas do que se sonhou.

Encontram-se "mais próximas do que sua veia jugular", como disse o Profeta do Islã falando com a eloquência concisa do deserto. O mundo de sombras a que não se pode escapar está presente no espaço de cada um, como certamente esteve no de Jung. É lamentável que para tantos ele permaneça invisível para sempre.

No entanto, aqueles que em sonho ou vigília, nas mágicas sincronicidades da luz do dia ou na obscura magia do sono, contataram efetivamente essas sombras, não apenas conservam a sua visibilidade, mas tornam-se na verdade as fontes da própria existência. 

Foi talvez essa qualidade imperativa do mundo das sombras que Jung desejou expressar quando disse a Laurens van der Post: "O sonho é como uma mulher. Terá a palavra final, como teve a primeira"...
"Define-se prólogo como a primeira palavra. Em outro sentido, também deve ser a última, pois nele deve-se resumir o Alfa e o Ômega da obra que se segue. Se essas linhas conseguiram realizar isso, não cabe ao escritor julgar. Só lhe resta nutrir a esperança de que o leitor receba uma premonição da estrutura mental ou do estado de espírito que serviu como força motriz para o seu trabalho".

"Jung disse que só um poeta poderia começar a entendê-lo, assim, talvez seja oportuno concluirmos com alguns versos do poeta húngaro Ady Endre, outro andarilho no estranho reino da Gnosis":
"De um mundo atemporal/ Sombras caem sobre o Tempo,/ A partir de uma beleza mais antiga que a Terra,/ A alma pode subir uma escada./ Eu ascendo por uma escadaria espectral/ A uma pureza mais antiga que o Tempo"...
[Extratos de 'A Gnose de Jung', p. 26/28, 29/33. Cultrix. Título original: 'The Gnostic Jung and the Seven Sermons to the Dead'].

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