Tratamento da dor crônica
As estratégias de tratamento da dor crônica são traçadas a partir de uma avaliação física, emocional e social do paciente. O combate à dor é personalizado para responder às características do paciente dentro do seu contexto. Em razão de sua complexidade, o tratamento se realiza em duas frentes: uma utiliza medicamentos e a outra recorre a técnicas e procedimentos não-medicamentosos.
Os melhores resultados no tratamento da dor crônica têm sido obtidos com uma abordagem multidisciplinar (entre especialidades médicas) e multiprofissional (médicos trabalhando junto com fisioterapeutas e psicólogos, entre outros). O objetivo final é aliviar ou eliminar o sofrimento. Isso se faz tratando as causas e conseqüências orgânicas e psicológicas da dor para melhorar a qualidade de vida do doente e reintegrá-lo à sociedade. Devido ao sucesso dessa estratégia, observa-se um aumento na quantidade de clínicas especializadas na abordagem multidisciplinar da dor.Os bons resultados decorrentes dessa abordagem se traduzem em mudanças de comportamento do paciente em relação à sua dor, em uma diminuição do consumo de medicamentos e na redução da procura por serviços médicos.
Conheça as principais opções de tratamento da dor crônica
Os Tratamentos Medicamentos da dor crônica
Os remédios são utilizados na maioria dos casos. Devem ser ministrados com muito zelo. As drogas escolhidas dependem das necessidades do paciente, procurando-se a mais eficaz e com menos efeitos colaterais. Muitas vezes, um analgésico ou antiinflamatório é suficiente. Porém, em outras situações, é necessário combinar várias substâncias, descritas abaixo.
Analgésic
Esses medicamentos são eficazes contra a dor nociceptiva (quando os canais de transmissão estão intactos). As neuropáticas dificilmente melhoram com esta medicação. Porém, é preciso muito cuidado na sua utilização.
Antiinflamatórios
Muito usados para combater a dor causada por algum tipo de inflamação.
Antidepressivos
Quando se fala em incluir remédios utilizados nos processos depressivos no tratamento da dor, a primeira idéia que vem à cabeça é que esses medicamentos serão úteis para atenuar a depressão causada pela convivência com a dor crônica. De fato, eles atuam sim para amenizar o desconforto emocional de alguém que dorme e se levanta com mal-estar às vezes tolerável, outras vezes absolutamente insuportável. Estima-se que 10% dos pacientes com dor crônica sintam depressão. Mas esta é apenas uma das razões de sua indicação. Na verdade, esses remédios apresentam uma forte atuação analgésica no sistema nervoso. Eles estimulam a liberação de uma substância existente no cérebro chamada serotonina, envolvida no processamento das emoções e que também funciona como uma espécie de freio da dor.
Ansiolíticos
Podem ser usados isoladamente ou associados aos antidepressivos. Ajudam o paciente a controlar a ansiedade que muitas vezes desencadeia ou agrava a dor crônica. Estes remédios podem inclusive melhorar a qualidade do sono e promover relaxamento muscular.
Relaxantes musculares
Este grupo de substâncias atua em vários mecanismos de relaxamento dos músculos, aliviando dores de múltiplas origens. Em alguns casos, os benefícios são de curta duração.
Anticonvulsivantes
Sabe-se que eles atuam particularmente nas dores crônicas acompanhadas de mioclonias (contraturas musculares espontâneas) com mecanismo de ação desconhecido.
Bloqueio de nervos periféricos
Usa-se este tipo de tratamento quando as outras estratégias, medicamentosas e não-medicamentosas, não foram suficientes para eliminar ou aliviar a dor crônica. Consiste na aplicação de substâncias bloqueadoras da atividade nervosa, para interromper a transmissão dos estímulos dolorosos enviados ao cérebro. Além de aliviar a dor, o bloqueio pode auxiliar na detecção do local em que se originou a da dor. Caso a dor desapareça indica que o problema está na região tratada. Existem várias técnicas utilizadas para se fazer o bloqueio nervoso. A injeção de substâncias no local afetado ou a colocação de um cateter ou bombas específicas para infusão controlada de drogas são as mais utilizadas. Em alguns casos extremos, realiza-se bloqueio permanente com a aplicação de substâncias que podem inclusive causar prejuízos graves à estrutura dos nervos.
Os Tratamentos Não-Medicamentosos da dor crônica
Os tratamentos não-medicamentos são muito utilizados e dispõem de várias modalidades. A exemplo do que ocorre no alívio da dor aguda, sempre deve ser orientado por um médico habilitado e aplicado por profissionais especializados com conhecimentos de dor crônica.
Conheça os principais recursos não-medicamentosos:
Fisioterapia
As técnicas são quase as mesmas indicadas contra a dor aguda. A.1. Exercícios – Os portadores de dor crônica não podem praticar qualquer tipo de exercício. Os mais indicados são os de baixo impacto, como caminhadas e hidroginástica. O indivíduo deve iniciar com moderação e aumentar seu ritmo aos poucos. Pode começar andando 15 minutos e aumentar o tempo de atividade progressivamente, sem jamais ficar exausto. A natação não é recomendada para todas as alterações da coluna vertebral. Pode agravar lesões do disco intervertebral ou dos ligamentos.
Apoio psicológico
Sem dúvida, o apoio psicológico é uma das frentes de combate mais efetivas para complementar o tratamento da dor crônica. Afinal, como já se viu, ter dor machuca a alma. É muito comum que o indivíduo com dor crônica sinta-se deprimido e estressado, porém ansioso para acabar com seu sofrimento. O problema é que essas sensações e sentimentos também amplificam a dor e pioram o quadro clínico do paciente. A ansiedade, por exemplo, gera tensão muscular. Ou seja, a intensidade do desconforto também depende da maneira como você encara a situação.
Por isso, uma das primeiras medidas tomadas em um tratamento sério é encaminhar o paciente para uma avaliação psicológica. O objetivo é verificar como o doente se comporta em relação ao seu desconforto. Nesta tarefa, os psicólogos por vezes utilizam diários nos quais o indivíduo vai anotando suas percepções ao longo dos dias. Essa informação é importante para que os especialistas possam conhecer os meios que o paciente dispõem para lidar com os seus sintomas e também para que ele se dê conta das dimensões reais e do seu problema, visto que muitas não têm uma percepção correta. Se achar que a sua dor no pescoço é devida a uma doença gravíssima e que ela o afastará de suas atividades, certamente esse pensamento estará fazendo com que ele sofra um desgaste maior do que o necessário.
Mudar essa maneira de lidar com a dor é fundamental para recuperar um estado de ânimo mais positivo, influenciando a qualidade de vida. Ou seja, dá para viver melhor, ainda que sentindo algum desconforto. Se a pessoa continuar alimentando a crença de que a sua dor é a pior do mundo e vai gerar desgraças, não conseguirá se envolver o suficiente no tratamento e nem depositar a devida confiança nos profissionais. É como se entregasse o jogo antes da partida ter começado. Entre as várias técnicas de apoio psicológico, aquela que tem apresentado as melhores evidências científicas no tratamento da dor crônica é a terapia cognitivo-comportamental.
Terapia cognitivo-comportamental
O método se baseia na premissa de que a dor é mais influenciada por pensamentos (crenças, regras, emoções ou expectativas) do que pelas manifestações da doença. Dessa forma, a terapia tenta fazer com que o indivíduo mude sua resposta emocional à dor e, conseqüentemente, passe a conviver melhor com ela.Estimula-se o paciente a aprender comportamentos mais adaptativos de pensar, sentir e se comportar, auxiliando o mesmo a interagir mais efetivamente com o seu meio, visando estabelecer uma relação harmoniosa entre o ambiente físico e social de modo a satisfazer as suas necessidades. Nas sessões, o psicólogo trabalha com o paciente no sentido de redirecionar os seus pensamentos negativos. Ele ensina, por exemplo, a substituir a sua atenção frente à dor por outros estímulos.
A intenção é conseguir com que a pessoa esqueça o sofrimento, mesmo que seja por um curto período. Outra estratégia é incentivar o doente a voltar a se dedicar às atividades que deixou de realizar. Por exemplo, se o paciente gostava de ir a restaurantes ou à casa de amigos e parou por causa da dor nas costas, os terapeutas irão apoiá-lo para retomar esse aspecto da vida social que lhe dava prazer, tirando sua atenção da dor. Também se incentiva o doente a sair do seu isolamento. É conhecido o fato de que a solidão é má companhia para a dor, pois pode dar a impressão ao seu portador de que é mais intensa. Além disso, os profissionais trabalham para que o paciente aprenda a lidar com as recaídas, mostrando ao indivíduo que da mesma forma que a dor voltou, ela pode ir embora.
Ainda auxiliam em questões práticas relacionadas ao seu cotidiano. Entre outras coisas, dão orientações para que o doente abandone completamente atividades que exijam um esforço associado com a dor, como trabalhar em pé por longos períodos. Nestes casos, orientam para buscar soluções intermediárias, como intercalar os períodos em pé com intervalos para descansar sentado.
Terapias Complementares
Nos casos de dores crônicas elas se tornam ainda mais importantes. Entre elas serão abordadas:
Outras estratégias
Alem dos recursos medicamentosos, não medicamentosos e das terapias complementares, há outras formas de amenizar a dor. Algumas até bastante antigas, como as descritas a seguir.
E o que fazer quando a dor não passa?
Como você viu, o arsenal terapêutico contra a dor crônica é imenso. Mas alguns pacientes não conseguem o alívio de seu sofrimento com nenhuma das técnicas ou combinações dos vários métodos. Nesses casos, devem ser encaminhados para especialistas, que recorrem a bloqueios terapêuticos por meio de injeções de fármacos diretamente no sistema nervoso periférico e ou nos troncos nervosos. Esses profissionais podem ainda fazer a administração de substâncias opióides no compartimento por onde circula o liquor (líquido que banha o sistema nervoso central) para interromper a transmissão das informações de dor. Ainda há possibilidade de realização de procedimentos neurocirúrgicos para as dores que não melhoram com remédios, fisioterapia, psicoterapia e aos bloqueios anestésicos.
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