A vilã invisível dos relacionamentos amorosos
Muitas pessoas acreditam que quando um casal começa a brigar é o início do caminho para o fim do relacionamento. A ideia de que um relacionamento saudável é aquele onde a harmonia reina a todo momento é um tanto quanto equivocada. É mais do que esperado que duas pessoas que escolhem conviver como um casal uma hora ou outra encontrem suas diferenças.
Quando iniciamos um relacionamento acreditamos que nossas ideias, crenças e vontades são semelhantes a da outra pessoa, mas isso pode ser apenas um sintoma de que estamos apaixonados. A paixão age como um "filtro da realidade".
Este "filtro" impede que não enxerguemos aquilo que nos diferencia do outro. Mas a realidade é que a paixão dura pouco tempo, segundo alguns pesquisadores esse tempo é de aproximadamente 2 anos. Passado esse tempo, surgem as diferenças e junto com elas as brigas e discussões.
Alguns casais atribuem o fim do relacionamento a incompatibilidade de personalidades ou até mesmo a inúmeras brigas que aconteceram. Quando na realidade a grande vilã do término ou até mesmo de um abalo no relacionamento é a comunicação do casal, ou melhor, a falta de habilidades para se comunicar de forma eficiente.
Um casal que vive a anos juntos pode ter os mesmos problemas de outro casal que decidiu se separar, o que os diferencia é a forma que ambos têm de se comunicar e encontrar soluções para seus problemas.
Comunicação
A comunicação é algo essencial para o convívio dos seres vivos, nos a fazemos e os animais também. Observe quando um cachorro começa a latir, logo os outros cachorros estão a fazer o mesmo. Mas nossa comunicação vai além, temos a nosso favor a comunicação verbal.
Comunicar-se é transmitir ao outro aquilo que pensamos, sentimos ou querendo, mas a forma que fazemos e transmitimos ao outro diferencia como essa informação chegará aos ouvidos de um terceiro. Cada um desenvolve durante sua infância e suas vivências uma forma de escutar e comunicar-se, o que nos leva a necessidade de conhecer a forma particular que nosso(a) parceiro(a) aprendeu a fazê-la.
Não ter a mesma maneira de comunicação que seu parceiro não significa que vocês são incompatíveis, mas sim que é preciso que além das formas individuais de comunicação,seja desenvolvida uma nova forma de comunicação do casal.
Se ao parar para discutir um assunto os leva mais para o brigas do que para a solução do problema, talvez seja hora de analisar os comportamentos que surgem durante a discussão.
Comunicação ineficaz
Se a comunicação não está ajudando a resolver os problemas, alguns comportamentos devem ser observados e ajustados:
Tentar convencer o outro que você está certa(o);
Acusar o parceiro ou alguém que ele gosta(mãe,irmãos...)
Interromper a fala do outro;
Ferir os sentimentos do outro com palavras rudes;
Introduzir um assunto passado que nada tem a ver com o atual;
Tentar adivinhar as intenções e sentimentos do outro;
Se vitimizar;
Fingir que não há um problema;
Apontar os defeitos do outro e valorizar apenas suas qualidades;
Interpretar como lhe convêm as palavras ditas pelo outro;
Ficar em silêncio;
Não deixar o outro falar;
A boa comunicação deve levar o casal a encontrar maneiras de solucionar o problema. Quando nos atemos a procurar os motivos que levaram ao problema e buscar um culpado para ele, caímos na armadilha da comunicação ineficaz, que nos levará a mais brigas e a ressentimentos desnecessários.
Ana Cláudia Vargas da Silva
Psicóloga
Como reforçar os laços emocionais no relacionamento?
Por vezes, à medida que a tensão sobe entre os relacionamentos, emergindo desavenças e pontos de vista opostos, a tolerância vai diminuindo, a irritabilidade e a frustração vão aumentando. É usual que a luta pelo controle e pela supremacia tome o lugar principal.
As lutas de poder e falta de igualdade são visíveis no que os casais realmente fazem uns aos outros nas suas interações, nas suas decisões, e na forma com se comportam uns com os outros e como expressam as diferenças de necessidades, desejos e personalidades.
Perante tais cenários é premente aprender a relacionarem-se mais como iguais, como parceiros de cooperação, isso é crucial. É semelhante ao que muitas pessoas tiveram de aprender numa rápida mudança do local de trabalho, por necessidade. É importante perceber que uma nova forma de estar, de dialogar e abordar temas de tensão tem de emergir.
É mais do que apenas aprender novas habilidades de comunicação ou de novas técnicas sexuais. Isso não irá criar reciprocidade ou igualdade por si mesmo. O que importa “revolucionar” é afastar-se daquilo que aprendeu e não serviu, para iniciar uma nova abordagem. Esta nova abordagem é suportada pela ideia de ter comportamentos e atitudes que sirvam e promovam o relacionamento, e não apenas os desejos e necessidades individuais.
Lutas de poder, de supremacia, e de prisão emocional, são um modelo de amor egoísta, de amor adolescente. A maioria das pessoas carregam esse modelo com elas nos seus relacionamentos adultos, consciente ou inconscientemente, dificultando uma aceitação mútua e uma conexão amorosa entre parceiros. No entanto as pessoas querem sentir-se plenas, e não terem de viver o medo da rejeição, do castigo ou abandono.
As relações convencionais com caraterísticas fundadas em torno da domínio e controle, conjuntamente com o modelo que transita da adolescência, criam produtos emocionais destruidores de relacionamentos. Esta falta de igualdade e desconexão emocional correspondente torna-se visível nas relações, distorcendo a forma como os casais vivem os relacionamentos, levando na grande maioria das vezes ao terrorismo íntimo.
O que proponho é a mudança da sua mentalidade sobre o seu relacionamento e igualmente os comportamentos que o suportam. Não é uma fórmula, mas sim algo que você tem que trabalhar e praticar.
Algumas orientações que podem ajudar:
DÊ SEM TENTAR OBTER
Não quero ser radical ao ponto de transmitir-lhe a mensagem que não deve esperar obter nada das suas ações ou atitudes relativamente ao seu parceiro, nada disso. Todos esperamos algo. Mas esse algo deve ser muito mais uma consequência, do que propriamente uma troca contratual. Deixe de olhar o seu relacionamento como uma transação, um dar e receber imperativo, um investimento para o qual se espera um retorno específico. Nós vivemos numa cultura comercial, não comercialize o seu relacionamento. Em vez disso, pondere a possibilidade de comprometer-se em demonstrar apoio e amor ao seu parceiro, sem esperar nada de concreto ou idealizado em troca. Você diz que sente amor? Mostre-o para o seu próprio bem, ponto final. Essencialmente, isso significa deixar de mover-se por um auto-interesse secundário. Abandone a sua ânsia de “obter” algo para si mesmo.
Dica: Redirecione as suas energias para apreciação que cada um pode ter relativamente ao outro, e distancie-se do objetivo autocentrado de tentar obter algo de volta. Vivencie, esse é o seu retorno.
Talvez tudo isto lhe soe demasiado “angelical” e altruísta. Sim, à primeira vista até posso concordar. No entanto, se fizer uma análise mais apurada, é fácil perceber que ”conseguir o amor que você quer”, não é através da avidez ou ficando sôfrego. Se vier livremente, do seu parceiro, até você, isso é ótimo. Mas não faça disso o seu principal objetivo. Observações de pesquisa clínica têm mostrado o valor desta forma de relacionamento. Por exemplo, estudos realizados pelo investigador John Gottman concluíram que o apoio mútuo é fundamental para uma relação positiva. Isso significa renunciar a grande parte dos interesses pessoais como o seu objetivo principal e colocar as necessidades do seu parceiro acima das suas, por difícil e paradoxal que possa parecer.
NIVELE O CAMPO DE AÇÃO
Tentar controlar ou dominar o seu parceiro através de manobras ostensivas ou subtis, certamente ajudará a cavar um buraco no relacionamento. Se for o caso, pondere reformular a sua ideia de relacionamento, abandone a busca de poder e substitua para: ter poder com…
Para melhorar um relacionamento, demonstre reciprocidade e igualdade através das suas ações. Isso é mais do que apenas comprometer-se em torno das diferenças. Mostre através das suas ações que você reconhece e apoia o seu parceiro como um ser igual, não um “objeto” para servir, ou frustrar o seu próprio ego. Embarque na experiência da partilha do poder. Por exemplo, em decisões diárias ou conflitos tente descobrir o que melhor serve o relacionamento, entre os dois, em vez de qualquer um de vocês. Que ações, atitudes e ideias constrói maior consideração, respeito e empatia pelo outro? Além disso, a pesquisa mostra que a decisão compartilhada entre parceiros, realmente leva a melhores decisões.
Exemplo: Se você tem uma discussão com o seu parceiro, e qualquer um de vocês consegue distanciar-se do impacto emocional que a disputa possa ter em vós, ou seja, você não deixa o assunto transbordar para outras áreas do relacionamento, então ambos os parceiros sentem-se mais ligados positivamente, em relação ao outro.
COLABORAR PARA O CRESCIMENTO MÚTUO
Se você foi condicionado em papéis rígidos que o empurram constantemente para um relacionamento deterrorismo íntimo associado a um modelo mais tradicional (como a maioria das pessoas ainda são), reconhecer que isso pode ser mudado é um fator impulsionador da mudança para melhor. Ter o objetivo de fazer crescer o relacionamento, deve ser suportado por uma forte honestidade emocional.
A capacidade de expressar os sentimentos, sem ofensas, e sem restrições formam a base necessária à abertura para expressar os incómodos e as insatisfações, sem medos. Se os parceiros, forem construindo um campo psicológico aberto à livre expressão, sem críticas cortantes por parte do outro, mas sim, vontade para a procura de soluções, certamente o relacionamento desenvolve-se de forma saudável, beneficiando a ambos.
Como um homem, demonstre o apoio ativo da autonomia da mulher, independência e competência, e ao mesmo tempo, mostre que valoriza e apoia a sua sensibilidade emocional e necessidade de conexão.
Como uma mulher, mostre apoio à capacidade do homem para a abertura, crescimento, e vulnerabilidade, além de afirmar a sua capacidade para as soluções orientadas, forças e tendências.
Você vai fortalecer o seu relacionamento, incentivando e apoiando o seu parceiro para promover e desenvolver as capacidades subdesenvolvidos.
APOIAR UM AO OUTRO COMO PESSOAS INDIVIDUAIS
Olhe para as diferentes perspetivas, interesses e desejos como uma experiência a abraçar, não algo a ser temido ou suprimido.
Abraçar as diferenças fornece uma “mentalidade” que ajuda a manter a relação energizada.
Você vai sentir uma maior estimulação e conexão positiva quando se tratam como seres humanos iguais, como pessoas distintas, que estão também ligadas. Sentir e demonstrar interesse um no outro, promover o crescimento e desenvolvimento como indivíduos, constrói maior ligação e energia emocional, relacional, sexual e espiritual sustentável.
Ambos estão interligados.
Sendo ambos separados enquanto individualidades, mas juntos na vontade de terem um relacionamento saudável, auxilia o crescimento pessoal, compartilha de propósito e significado como parceiros.
A reciprocidade é reforçada quando também compartilham uma visão maior da vida, valores e propósito geral. Tenha em mente que a vida próspera do seu relacionamento, é uma troca de energia em movimento.
A energia saudável está sempre fluindo, é flexível, equilibrada e associada a sentimentos positivos.
A energia insalubre é redutora, rígida, e associada a emoções negativas.
Com esta perspetiva os parceiros têm a capacidade para construir entre eles, um estado de energia fluída e saudável.
A reciprocidade é uma parte crítica para mantê-lo conectado em torno de uma visão acerca da razão porque está nessa relação. Se essa é a viagem que pretende fazer, comece hoje mesmo a mudar para melhor.
Miguel Lucas
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