Fibromialgia: o que você precisa saber.
O que é fibromialgia?
Fibromialgia não chega a ser uma doença. Se você fizer uma biopsia das
partes que doem, enviar para análise, fazer cultura, olhar no
microscópio (…), nada vai surgir. O tecido não
está doente. Não há nenhum vírus ou bactéria. E, a boa notícia, ninguém
morre disso. No entanto, quem sofre de fibromialgia não tem a menor
dúvida de que alguma coisa está errada.
Que nome dar?
Diz-se “síndrome”, “distúrbio”, “patologia”. Seja lá qual for o nome, existe, e causa imensa morbidade para os acometidos.
Quem tem fibromialgia?
Fibromialgia pode acometer homens e até crianças, mas isso é bastante
raro. Mais de 95% das pessoas que sofrem deste mal são mulheres,
geralmente com idade superior a 20 anos.
Quais os sintomas de fibromialgia?
Dor no corpo todo. Dor “na carne”, não nas juntas. Dói o dia inteiro,
mas a dor é particularmente maior ao acordar (parece que se “levou uma
surra” na noite anterior”), sente-se uma discreta melhora ao longo do
dia, mas no final da tarde a dor volta com toda sua intensidade.
Dorme-se mal nesta síndrome. A cabeça “não para”. Todos os problemas da
humanidade passam na cabeça da fibromiálgica, mas em especial os dos
parentes próximos. O sono é descrito como “não reparador”, ou seja, a
pessoa não descansa. Tem-se a sensação de cansaço e sonolência por todo o
dia. Em muitas pessoas as mãos estão inchadas, principalmente pela
manhã, algumas vezes formigam, ou ficam dormentes. Para outras, por
momentos, a respiração pode ficar difícil, como se houvesse um grande
peso sobre o peito. Essa sensação passa sozinha após minutos ou horas
mas tende a voltar ao longo do dia. Dores de cabeça são comuns. Causa ou
conseqüência, a depressão é muito freqüentemente associada à
fibromialgia.
Como ter certeza de que eu tenho fibromialgia?
Não há exame diagnóstico específico. É muito comum a pessoa passar de
médico em médico, realizar milhões de exames, de sangue à ressonância
magnética, sem encontrar nada de errado. O diagnóstico de fibromialgia é
baseado em exames laboratoriais normais, que excluem outras doenças que
possam imitar a fibromialgia, e no quadro clínico típico. Os famosos
“pontos em gatilho” da fibromialgia (pontos bastante dolorosos à
palpação) são indicativos mas com maior valor para trabalhos clínicos do
que para o diagnóstico em indivíduos.
O que causa fibromialgia?
Para ir direto ao ponto, o que causa a fibromialgia é o sono ruim. Quem
não descansa por um período contínuo e duradouro fica com dores no
corpo todo. É o que acontece na fibromialgia e em outras patologias do
sono. Em outra doença, a apnéia do sono, por exemplo, o indivíduo não
dorme por uma razão bem diferente: se ele aprofunda no sono engasga e
sufoca. Mas o resultado é o mesmo: dores no corpo, dores de cabeça,
cansaço e sonolência. Uma mãe que não consegue dormir porque o bebê
acorda a noite toda também sente dores semelhantes. Mas, na
fibromialgia, o que causa o sono ruim? Como já mencionado, a
fibromiálgica não dorme porque “a cabeça não desliga”. Porque então “a
cabeça não desliga”? Aí entra o próximo tópico.
A personalidade fibromiálgica
Fibromiálgicas carregam o mundo nas costas. Preocupam-se com tudo e com
todos. Porque o filho vai mal na escola, porque a filha perdeu o
emprego, porque o genro não dá bola para os problemas, porque o marido
não se envolve… Trabalha e preocupa-se com e para todos. E
freqüentemente aflige-a o fato de que ninguém se preocupa com estes
problemas como ela. Bem, se uma pessoa toma conta do mundo sozinha, como
é que ela vai conseguir dormir? Quem vai tomar conta do mundo enquanto
ela estiver “desligada”? Os problemas são enormes, e após um vem logo
outro. E a fibromiálgica passa a vida esperando as coisas melhorarem
para ela começar a se cuidar, para começar a ser feliz. Mas as coisas
nunca
melhoram o bastante.
Fibromialgia tem cura?
Tem. Mas depende muito mais da paciente do que do médico. Ao médico
cabe apenas orientar e passar algumas medicações. As medicações na
fibromialgia não são mágicas. Elas se baseiam em relaxantes musculares,
que melhoram o sono e “desligam” um pouco a pessoa, e antidepressivos.
Alguns antidepressivos também dão sono, outros apenas combatem a
depressão associada, e diminuem a ansiedade. Muitas fibromiálgicas ficam
dependentes de remédios para dormir e ansiolíticos, que resolvem muito
parcialmente os problemas. Os relaxantes musculares e antidepressivos
não causam dependência, mas, infelizmente, perdem a eficácia após mais
ou menos de 8 a 12 meses. Então os problemas voltam, e os remédios não
mais funcionam.
É verdade que esportes têm papel importante na fibromialgia?
Sim. Esporte age de diversas maneiras. Em primeiro lugar melhora a
forma física, a auto-estima e o organismo como um todo. Em segundo,
libera uma série de hormônios e mediadores que aliviam a dor e o
cansaço. Em terceiro, pode melhorar a qualidade do sono. Por fim, o
esporte é um momento onde a fibromiálgica deixa o mundo de lado para
cuidar de si mesmo. Isso apenas já é grande avanço! Qual esporte fazer?
Tenha em mente duas coisas: primeiro, a atividade deve ser para a vida
toda! Portanto não faça algo que não goste, ou que não vai agüentar
muito tempo. Se academia te entedia, mas dança te dá prazer, dance! Se
cansar de um mude para outro. O importante é não ficar parada. Combine
esforço aeróbico com alongamento. Musculação não é o mais indicado.
Segundo, um corpo
dolorido e contraído dói mais ao exercício. É
comum e esperado que as dores piorem no início das atividades físicas.
Este é o momento de usar as medicações que seu reumatologista indicar,
elas darão algum alívio. Insista. Continue. Faça por gosto e por você.
Como curar fibromialgia?
Geralmente uma crise forte de dor anuncia que a pessoa está realmente
num limite e que uma mudança no estilo de vida é urgente. Algo está
“demais”, pesado demais mesmo para esta pessoa campeã em agüentar as
coisas. Esta crise pode ser uma oportunidade de alavancar uma
transformação, e a cura. Entenda esta crise de dor aguda como um grito
do
corpo pedindo que a pessoa atenda as exigências maiores de
sua essência. Para curar a fibromialgia tem-se que tomar consciência dos
mecanismos que causam a doença, e mudá-los. Os remédios são
fundamentais, viabilizam uma condição onde a transformação tem chances
de acontecer, aliviam por alguns meses. Este tempo é valioso para a
pessoa mudar completamente o jeito como leva a vida. “Se trago as mãos
distantes do meu peito, é que há distância entre intenção e gesto”, diz
Chico Buarque. Da mesma forma, conscientizar-se está ainda a alguma
distancia de resolver o problema. Pode não ser fácil mudar os padrões de
comportamento de uma vida toda. Por isso psicoterapia é fundamental.
Simplesmente deixar de se preocupar com as coisas e pessoas não é
possível. Se fosse, deixaria um vazio enorme. A fibromiálgica pode
perceber que há anos não vive sua própria vida. Reconstruí-la, retomar
objetivos próprios e prazeres pessoais é fundamental. Lidar com a culpa
de “deixar as pessoas à própria sorte” também pode ser difícil. A
combinação da medicação certa, exercícios físicos, auto-conhecimento e
muita vontade é a única fórmula capaz de operar milagres.
Autora:
Dra. Marina Petrilli Segnini dos Santos
Psicóloga – Psicoterapêuta ( CRP 06/65345)
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