Banho e Bem-Estar
A
água revela-se como uma importante
aliada contra diversas doenças. A
crenoterapia explica como chegar lá.
Água.
Desde cedo é fácil habituar-se a ela.
Está presente nas brincadeiras de
infância, refresca o corpo em dias quentes
ou, mais simples, sacia a sede. Aprende-se que
a Terra, apesar do nome, está cheia mesmo
deste elemento! E algo assim, tão abundante,
muitas vezes utilizado de forma incorreta, pode
oferecer benefícios à saúde
mais do que se imagina. Traduza a frase anterior
como a crenoterapia, técnica que utiliza
água mineromedicinais (com propriedades
medicamentosas) como recurso terapêutico.
Aliás, é recomendada por médicos
de diversas especialidades, como ortopedistas,
reumatologistas, psiquiatras, cardiologistas,
fisioterapeutas e massoterapeutas para
auxiliar no tratamento de diversas
enfermidades.
"Há
cerca de cinco décadas, médicos de
várias partes do Brasil enviavam
pacientes para se tratarem com águas
minerais e banhos em estâncias hidrominerais",
conta o médico ortomolecular, clínico
geral e especialista em Saúde Pública,
Márcio Bontempo.
Antes
de sair correndo para alguma estância
hidromineral, saiba que é fundamental visitar
um especialista. Isso porque cada água
possui suas especificidades, como temperatura
e composição química. "É
necessário avaliar, primeiramente, as necessidades
do paciente para depois indicar a estância
mais adequada e como será o tratamento",
informa Nivaldo Parizotto, professor titular do
Departamento de Fisioterapia da Universidade
Federal de São Carlos (UfsCar) e
responsável pela disciplina na qual
estão inseridas a crenologia e
hidroterapia.
Sagrado elemento!
De
acordo a fisioterapeuta Teresa Cristina Alvisi,
professora de Termalismo e Geriatria/Gerontologia
da Pontifícia Universidade Católica
(PUC) de Poços de Caldas, em Minas Gerais,
é possível utilizar esse recurso
natural de diversas maneiras. "Pode ser por
balneação [imersão do corpo
inteiro ou apenas uma parte], aplicação
de duchas gerais ou parciais, ingestão,
inalação ou irrigação interna",
comenta.
Assim
como Parizotto, ela frisa que conhecer a
constituição química da água de um
local é de suma importância para poder
recomendá-la a um paciente. "Em Poços,
por exemplo, a água é sulfurosa, ou
seja, é rica em enxofre, que é um
reconstituidor do tecido conjuntivo,
presente nos brônquios, nas
articulações, na pele e no sistema
vascular. Por isso, a maioria de suas indicações
está na pneumologia, reumatologia e no
controle de hipertensão", descreve.
Já em
Águas de Lindóia, estância hidromineral
de São Paulo, há maior concentração de
água bicarbornatada, que é antiácida
e digestiva. "Pode ser indicada para
pacientes com úlcera ou gastrite",
exemplifica Parizotto. "Basicamente,
qualquer enfermidade pode ser tratada ou
amenizada com o uso de águas minerais",
completa Bontempo. E não são poucos os
locais em que se pode desfrutar de todas
essas vantagens. Fique sabendo que o
Brasil é o país com maior quantidade de
estâncias hidrominerais do mundo. De
acordo com Bontempo, o Circuito das Águas
Sul Mineiro (que inclui São Lourenço,
Caxambu e Lambari) é considerado o maior
parque aqüífero do planeta. Só em
Caxambu são 14 diferentes tipos de águas
medicinais.
Qualquer enfermidade pode ser tratada ou amenizada com o uso de águas minerais
Fria ou quente
Pense
naquele banho quentinho, depois de um dia
estressante. Ele não só relaxa como
provoca uma moleeeza. Por outro lado, quando tomamos
uma ducha gelada, o ritmo respiratório
aumenta e fica mais ativo. Já que diferentes
temperaturas provocam determinadas reações
no organismo, a propriedade térmica da
água é outro fator a ser analisado
antes de mergulhar de cabeça na crenoterapia.
Afinal, dependendo da enfermidade, há uma
temperatura ideal para que os resultados sejam
realmente satisfatórios.
Para
indivíduos que sentem dores físicas, por
exemplo, uma fonte de água quente é uma
ótima pedida! Chamada de hipertermal (a
temperatura fica acima de 40ºC), ajuda
"na redução da dor, representando um
alívio importante na vida dessas pessoas"
afirma Parizotto.
Há
ainda as fontes mesotermais (a temperatura
fica entre 30 e 40°C) e as hipotermais (entre
20 e 30°C). "Cada uma delas tem aplicações
específicas e complexas, dependendo do
caso", lembra Bontempo.
Forte aliada!
A
fisioterapeuta da PUC faz questão de
ressaltar que o tratamento com águas deve
ser encarado como um complemento. "O uso
das águas mineromedicinais tem funcionado
como coadjuvante nos tratamentos medicamentosos.
É necessário sempre um acompanhamento
clínico", frisa. O especialista da
UfsCar concorda. "É uma terapia cuja
função é tornar ainda melhor o
tratamento médico".
Segundo
Parizotto, a técnica também deve ser
encarada como uma maneira de prevenção.
"Se mandarmos uma pessoa por 15 dias para
uma das cidades balneárias, além de
aproveitar as águas, ela também vai
passear, relaxar, ter uma alimentação
saudável e se divertir. Essa associação é
capaz de reduzir as chances de o indivíduo
desenvolver uma patologia decorrente do estresse,
que é a maior doença do século".
Esse
conceito de "turismo-saúde" já é
explorado, inclusive, na Europa. "Lá as
empresas estimulam a ida dos
funcionários às estâncias", complementa
Parizotto. Já no Brasil, essa parece ser
uma realidade ainda distante, apesar
de, em 2006, a crenoterapia ter entrado para a
lista de técnicas terapêuticas que
instituem a medicina complementar e integrativa
na rede pública de saúde. "É
um avanço", comemora Bontempo.
Tipos de fontes
Água é tudo igual? Não mergulhe nessa cilada
Sulfurosa:
enxofre é seu principal componente. É
antirreumática, antialérgica,
desintoxicante e antiinflamatória.
Cloretada: sua
composição é caracterizada, sobretudo,
pela presença de cloreto. É expectorante
e antiinflamatória.
Bicabornatada: rica em bicabornato, é antiácida e digestiva.
Ferruginosa: possui ferro, portanto, é antianêmica e reconstituinte.
Cálcica:
contém cálcio em maior quantidade. É
antialérgica, sedativa e
antiinflamatória.
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