O Poder de Abençoar
A Antiga Arte de
Estimular o Melhor nos Outros
O eu superior é celestial, e o contato com ele nos abençoa
O
poder de abençoar é uma energia vital superior. Ele desperta pouco a
pouco na consciência do indivíduo que dedica sua vida à busca da
sabedoria. Ele surge na medida em que o estudante da filosofia esotérica
expande gradualmente sua vivência direta do ensinamento, fortalece seu
contato com a Lei e ganha real confiança na vida e em si mesmo.
Em
última instância o poder de abençoar os outros beneficia aquele que o
exerce, porque tudo o que alguém faz a outrem volta cedo ou tarde para
ele próprio. Em Atos dos Apóstolos, 20:36, podemos ler: “Há mais
felicidade em doar do que em receber”. A
curto prazo, porém, ajudar os outros pode atrair para aquele que
abençoa algo da angústia ou da ignorância de quem estava a sofrer. Na
lenda do Evangelho, Jesus foi crucificado por fazer o bem. Abençoar
implica auto-sacrifício. A boa vontade de quem abençoa será
constantemente testada. A arte de despertar o melhor nos seres humanos é
probatória. Não pode haver ao abençoar uma intenção subconsciente de
beneficiar a si mesmo, nem a de parecer espiritual, ou de
despertar admiração. A intenção dominante em todos os níveis da
consciência deve ser o estabelecimento impessoal de uma relação
pedagógica com a vida, na qual o ato de aprender, o processo de ensinar e
a tentativa de estimular o melhor nos outros são apenas três aspectos criativos de um amor incondicional pela Vida.
Teosofia
é respeito pela vida universal, e implica reconhecer que o eterno e o
infinito estão presentes em cada ser. Abençoar não consiste em dizer a
alguém “eu te abençoo”. Este formalismo ilusório tem origem
sacerdotal. O ato de abençoar é mais profundo e mais complexo: consiste
em despertar no outro sua okeidade natural, sua capacidade de estar OK,
isto é, de estar em unidade dinâmica e criativa com a Vida ao seu redor
e com a Vida dentro de si. Abençoar é um processo gradual e contínuo,
que estimula em outrem tanto o autoconhecimento como a
auto-responsabilidade.
Não
nos enganemos: viver corretamente é a única fonte real de bom carma ou
de bênçãos. Antes de desejar felicidade, é preciso merecê-la. Em
consequência disso, abençoar é estimular no outro a decisão de fazer por merecer a bem-aventurança da paz interior.
Os
teosofistas não acreditam em bênçãos vindas de “alguém” e
gratuitamente. Eles sabem que o bem-estar real emerge do bom trabalho. O
esforço diário na direção correta é um bálsamo. O trabalho nos abençoa.
Dar o exemplo de uma vida sábia é um modo eficaz de ajudar os outros. A
presença silenciosa de um ser de coração puro inspira o melhor nos que o
rodeiam. Mas não basta alguém ter o poder de abençoar
incondicionalmente e de estimular sem nada esperar em troca o que há de
mais elevado naqueles com quem entra em contato. É preciso que aquele
que receberá a energia curadora tenha a capacidade de aceitar a libertação. E há um momento na vida em que é necessária uma forte autodisciplina para abrir mão da dor a que estamos acostumados.
Renunciando ao Sofrimento Desnecessário
A
dor psicológica é um hábito e o ser humano se apega a ela. O indivíduo
ingênuo se identifica com suas “feridas emocionais” - normalmente
associadas ao desejo - e se lamuria e se lamenta tanto diante dos outros
como no seu discurso interno para consigo mesmo.
Pode haver uma estranha satisfação pessoal em gemer e constatar que se está sofrendo muito. O autocastigo
é um vício e pode estar associado a sentimentos subconscientes, e
ilusórios, de culpa. O hábito emocional de ser infeliz deve ser
compreendido e abandonado. É saudável fazer um voto solene para consigo
mesmo - e renová-lo uma e outra vez -, tomando uma resolução firme no
sentido de desapegar-se das formas costumeiras de sofrimento.
Aquilo
que causa dor emocional a uma pessoa pode não causar a outra: portanto,
a dor emocional é uma questão de opção, ainda que a escolha por sofrer
seja subconsciente.
A
parte desagradável do carma individual surge como hábitos e tendências
negativas, mas eles podem ser superados. Ao abrir mão do sofrimento
desnecessário, aceitamos os fatos como eles são e trabalhamos com
sentido prático para construir a realidade agradável que queremos ver.
Deixamos de reclamar da vida ou das circunstâncias e passamos a ter uma
existência iluminada e vitoriosa a cada novo dia. Deste modo nos
capacitamos para aceitar a felicidade e as bênçãos que estão o tempo
todo à nossa disposição - embora talvez não o saibamos - e que fluem a
partir da energia universal e pura do nosso próprio eu superior.
O
pensamento é o leme que define o rumo do carma. O pensamento correto
leva ao carma positivo, e pensar corretamente está ao alcance da livre
vontade individual.
A substância da alma imortal é abençoada. Cada
ser humano pode constatar isso diretamente. O eu superior é celestial.
Ele é feito de bem-aventurança e felicidade. Desligando-nos do hábito
de desejar e sofrer, ampliamos o nosso contato com o território sutil e
revolucionário da felicidade. Então surge em nós com força especial a
capacidade de irradiar para todos a bênção que habita nossa consciência.
Carlos Cardoso Aveline
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