AS ARMADILHAS DO EXCESSO DA VAIDADE
Em uma época de informações on-line e de tecnologia
avançada, é quase impossível não se contaminar pelo mar de novidades que
recebemos a cada dia. Uma pesquisa divulga que chocolate faz bem, e lá
vamos nós todos comer chocolate. Divulga-se outra pesquisa informando
que chocolate faz mal. Lá vamos nós parar de vez com o chocolate. Um
cálice de vinho, meditação, 50 escovadas no cabelo, gengibre, soja,
linhaça dourada, exercícios físicos, ração humana, toxina botulínica,
receita caseira para a pele, ufa! E tudo isso para travarmos uma batalha
impossível de ser vencida, pois não adianta lutarmos contra o tempo. Os
anos passam, os cabelos brancos vêm, as rugas chegam e, por mais que a
tecnologia evolua e drible algumas questões, na época atual estamos
beirando o ridículo quando temos sessenta anos e acreditamos poder
voltar aos dezesseis.
Certa vez eu estava em um restaurante e vi uma menina de costas. Ela
estava de minissaia, cabelos louros e compridos, vestida em um estilo
bem adolescente. Eu não a conhecia, então continuei andando. De repente,
ouvi a voz de uma senhora de idade me chamando: “Não reconhece mais os
amigos?” Quando me virei, a menina de minissaia aparentava uns sessenta e
cinco anos e a reconheci pela voz e pelos olhos. Era uma pessoa que eu
não via há algum tempo e que havia feito tantas cirurgias que estava
incognoscível. Não quero fazer julgamentos, pois nada tenho a ver com a
vida das pessoas. Cada um é livre para exprimir-se do jeito que melhor
lhe aprouver. O que acontece é que, quanto mais as pessoas por aí tentam
corrigir sua imagem no espelho, mais tristes e infelizes elas se
tornam, porque a cirurgia que precisa ser feita é na alma, para que elas
se aceitem do jeito que são, que consigam divertir-se consigo mesmas,
sentir amor por si mesmas.
Muitas vezes, a pessoa nasce com um corpo que ela não considera o
ideal porque justamente aquele nariz que ela não suporta vai aflorar
nela situações de timidez que ela precisa curar. Então, ela vai lá e
“corta” a metade do nariz e então se sente melhor, percebendo que isso
funciona. Então, ela pensa: “Ah, se funcionou com o nariz, deve
funcionar com as orelhas”. Depois com os seios, e a barriga, e os braços
etc., até que a pessoa fique com a saúde em risco, com suas expressões
descaracterizadas ou com problemas mentais, porque ela já nem sabe mais
quem é.
Em uma viagem que fiz a trabalho, comecei a observar as mulheres que
entravam no avião. Surpreendentemente, as mulheres de uma mesma faixa
etária possuíam os cabelos, as bocas e os olhos todos iguais. Rostos
tristes, cansados, decepcionados... Uma aplicação de botox não pode
trazer autoestima, porque ela nada tem a ver com imagem corporal, e sim
com a consciência de gostarmos de ser do jeito que nós somos. Cirurgias
não curam a autoimagem distorcida que muitas pessoas enxergam no
espelho. Isso vem de dentro; portanto, antes de tomar qualquer decisão
cirúrgica, tome uma decisão que vai melhorar a sua alma, pois ela é
imortal, ela não perece e não sofre com o tempo, só melhora. O
envelhecimento do corpo é importante para lidarmos com o nosso orgulho e
aceitarmos que nosso corpo físico é mortal e perecível.
A vaidade tem limites e não é a coisa mais importante do mundo. Isso
nós só percebemos quando vamos adquirindo maturidade, o que pode ocorrer
aos oito ou aos oitenta anos. Existem muitas crianças maduras e muitos
idosos infantis. Pense nisso!
Patrícia Cândido
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