MANTRAS SÃO VETORES DE PODER
LOTUS OM MANI PADME HUM
No
Tibete, a tradição budista admite que a recitação dos mantras traz
efeitos benéficos, essas palavras podem agir sobre a mente.
As palavras vibram através do som pronunciado, elas são os vetores de um poder muito grande. É um sinal claro de seu poder, que é exercido em vários domínios, como se pode constatar facilmente.
Além disso, todo mundo sabe a importância que as palavras desempenham em nossos estudos, dos quais são um veículo indispensável. Um provérbio tibetano salienta muito bem a força da palavra:
As palavras não tem nem pontas, nem corte,
Mas podem ferir o coração de um homem.
Os tantras ensinam que o corpo do ser humano é inervado por uma rede de 72 mil canais sutis (sânsc. nadis), cujas extremidades acredita-se terem a forma de letras, mais particularmente das dezesseis vogais e das trinta consoantes do alfabeto sânscrito. Os ventos (sânsc.prana) que circulam nos canais são influenciados por essas formas, o que explica o fato de os humanos possuírem a faculdade de produzir uma grande variedade de sons, cuja combinação proporciona a riqueza da língua. A estrutura da rede dos canais sutis parece muito menos elaborada dos animais; é por isso que só dispõe de pouquíssimos sons para se comunicarem.
Um sexto elemento
Contudo, a
configuração dos canais sutis não basta para conferir a possibilidade
de se exprimir de maneira complexa. O corpo e a mente são, com efeito,
compostos por cinco elementos: a terra, o fogo, o ar e o espaço. Os humanos possuem, um sexto elemento que falta aos animais: o elemento consciência primordial (sânsc. jnana). Por causa desse elemento, o corpo humano é chamado "corpo vajra sêxtuplo". A consciência primordial permite, de um lado, exprimir-se com ajuda de um vocábulo muito amplo e, de outro lado, compreender o sentido do que nos é dito. Ela permite também a reflexão, a informação e o conhecimento.
Os mantras constituem um aspecto da linguagem cuja criação requer capacidades particulares. Tomemos alguém que tenha atingido um nível já bastante superior em relação à humanidade comum: a primeira terra de bodhisattva. Ele possui doze poderes cêntuplos: a capacidade de conhecer os acontecimentos de cem vidas passadas e de cem vidas futuras, de ir a cem campos puros simultaneamente, de escutar simultaneamente o ensinamento de cem buddhas, de permanecer ao mesmo tempo em cem estados meditativos, etc. Entretanto, mesmo um tal ser não pode criar um mantra.
À medida que um bodhisattva percorre a seqüência das dez terras, a potência de seus doze poderes é multiplicada por dez. Chegando à sétima terra, ele fica, além disso, totalmente livre do véu das emoções conflituosas. Mas, a faculdade de compor um mantra ainda lhe é vedada.
Na oitava terra, é produzida uma nova etapa na progressão do bodhisattva que confere à sua mente dez domínios: sobre a duração da vida, sobre os estados de absorção meditativa, etc., e principalmente, sobre o sentido das palavras, tanto que, a partir desse nível, a composição dos mantras torna-se possível.
Na décima terra, graças à "meditação semelhante ao vajra", o bodhisattva atinge a realização última, o estado de Buddha. Um Buddha que possui a onisciência tem, por definição, a faculdade de criar todas as categorias de mantras.
É apenas no nível das três últimas terras de bodhisattva, as "três terras puras", e do estado de Buddha, que a visão de todos os elementos que compõem o samsara e o nirvana é suficientemente vasta para que as implicações dos sons e das palavras sejam perfeitamente compreendidas, o que autoriza a enunciação de um mantra.
Os mantras assim criados veiculam o poder de purificar a mente e tornar evidente sua verdadeira natureza. Portanto, sua função é extremamente benéfica.
Tomemos como exemplo o mantra de Avalokita (Chenrezi), dito "mantra de seis sílabas", Om Mani Peme Hung. Atribui-se a cada uma das sílabas os seguintes poderes:
elas fecham a porta dos renascimentos
nas seis classes de seres do samsara;
elas eliminam as seis emoções conflituosas de base:
elas permitem realizar as seis sabedorias;
elas conduzem à prática perfeita das seis paramitas, etc.
Essas qualidades extraordinárias do mantra de seis sílabas foram descritas pelo próprio Buddha, assim como por Guru Padmasambhava.
Os mantras foram enunciados pelos buddhas e pelos bodhisattvas com ajuda das palavras e sons da língua sânscrita, considerada como língua ideal sobre a terra, superior a qualquer outra. Como o som desempenha um papel muito importante no uso dos mantras, os tibetanos nunca os traduziram para sua língua, mas os transcreveram graças a um sistema de transliteração que permite conservar o som sânscrito, utilizando o alfabeto tibetano. Assim, eles preservaram o poder espiritual inerente à sonoridade sânscrita e à enunciação original do mantra. Os efeitos dos mantras são muito vastos e muito poderosos.
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