segunda-feira, 14 de abril de 2014

EQUILÍBRIO E A HARMONIA - Limpe sua casa e, assim, sua mente!

Limpe sua casa e, assim, sua mente!


Desapegar-se de objetos e lembranças é, também, uma maneira de praticar meditação, sabia? Descubra como este exercício pode dar aquele empurrãozinho na sua vida





Pare por um instante e dê uma rápida observada em tudo o que está ao seu redor. Olhe para os objetos que compartilham o ambiente com você e verifique se há algo fora do lugar, alguma coisa quebrada ou que parece sem uso. Encontrou algo?
Bem, independentemente de qual seja sua resposta, o importante é mesmo treinar esta percepção. Ao longo da vida, acumulamos tralhas materiais e mentais que, em algum momento, passam a ocupar mais espaço do que deveriam.
Por isso, nada melhor que detectar quais são essas coisas para, então, descartá-las, e assim poder organizar a própria vida.
É mais ou menos essa a ideia defendida pela autora Gail Blanke no livro Jogue fora 50 coisas, recentemente publicado no Brasil pela Editora Ediouro. Na obra, Gail defende a importância de eliminar pesos extras que agregamos ao longo de anos e anos, principalmente aqueles vindos de lembranças do passado, já que tais coisas perdem a utilidade com o tempo e passam a bagunçar nossa rotina – até impedir que percebamos o que é realmente importante no nosso dia a dia.
Quer saber mais sobre esta faxina mental e material? Então, acompanhe a leitura!

Guia de organização – e meditação!

Gail Blanke propõe aos leitores um exercício que, à primeira vista, pode parecer um tanto quanto complicado: eliminar, ao menos, 50 objetos que se tornaram obsoletos dentro de casa. Mais que isso, Gail também enfatiza a necessidade de desprender-se de sentimentos negativos que vão ficando guardadinhos na memória e provocam uma verdadeira bagunça mental – atividade que funciona, inclusive, como uma espécie de meditação.
Aliás, em muitas tradições indianas, o desapego é também visto como peça-chave para a evolução espiritual. Não à toa tantos mestres hindus e budistas abrem mão de todos os possíveis privilégios e optam por uma vida simples, livre de qualquer regalia. É claro que não precisamos chegar a tal ponto, mas o exercício de identificar e dispensar o que se tornou inútil é um ótimo caminho para quem busca crescimento.

Lembranças empoeiradas

Para a maioria das pessoas, guardar objetos é uma forma de relembrar o que aquilo representa, como, por exemplo, o momento em que foi adquirido ou a maneira como foi entregue, caso seja um presente. “Portanto, se desfazer destes objetos parece significar não dar a devida importância à lembrança. É por isso que, para muitas pessoas, não existe a possibilidade de dar embora estes objetos, pois seria o mesmo que agir com ingratidão ou indiferença”, explica a psicóloga Roseleide Santos, da Clínica Viver Com Qualidade, de São Paulo (SP).
Nessas horas, aconselha a psicóloga, é preciso compreender que as lembranças realmente importantes vão continuar presentes mesmo que o objeto não esteja mais por perto: “É necessário compreender que a conexão com aquela boa lembrança não acontece através do objeto em si, mas, sim, do que fica guardado em nossas memórias”.

Energia vital

Ficar aprisionado a entulhos materiais e mentais provoca mais que bagunça e desorganização. Segundo algumas das principais filosofias orientais, há algo mais “perigoso” neste padrão de comportamento: a partir dele, é como se ficássemos ligados demais às portas que se fecharam no passado e, assim, deixássemos de lado as novas oportunidades que surgem no decorrer do caminho.
“As pessoas acabam ficando aprisionadas a situações inacabadas que demandam boa parte de sua energia vital, mesmo que não haja possibilidade de resolução. Por isso, o melhor a fazer é sempre buscar uma forma de resolver os conflitos, individualmente ou com quem se tem pendências, para que haja espaço para novas experiências, defende a psicóloga.
Compreender o valor sentimental de um objeto, por exemplo, é meio caminho para assimilar de que forma aquilo pode ou não nos manter acorrentados a episódios mal resolvidos. A partir disso, evidentemente, fica muito mais fácil desprender-se do objeto e buscar uma solução.

Inspiração mental

O guru indiano Osho é, hoje, um dos grandes líderes espirituais do mundo contemporâneo. Segundo seus ensinamentos, o desprendimento mental é caminho certo para a purificação e elevação espiritual. Acompanhe o que o sábio tem a dizer sobre o assunto e inspire-se a realizar uma verdadeira transformação!
"Esta é a situação da sua cabeça: vejo ali "guidons" de bicicleta, pedais e coisas estranhas que você foi juntando de toda parte. Uma cabeça tão pequena... e sem espaço para se viver nela!

E esse material inútil fica revolvendo-se em sua cabeça; sua cabeça fica girando e tramando - e isso mantém você ocupado. Imagine só que tipos de pensamentos vão passando pela sua mente...
Qualquer dia, simplesmente sente-se, feche os olhos, e coloque no papel, durante meia hora, o que quer que passe pela sua mente. Você compreenderá o que estou querendo dizer, e ficará surpreso com o que transita no interior da sua mente. Isso tudo vai ficando nos bastidores, fica ali o tempo todo, e acaba envolvendo-o, como uma nuvem.

Devido a essa nuvem, você não consegue distinguir a realidade, não consegue chegar à percepção espiritual. É preciso desfazer-se dela.
E apenas com a sua decisão de descartá-la é que ela irá desaparecer. Você está apegado a ela - a nuvem mesma não tem o menor interesse em você, lembre-se disso”.

[Trecho extraído da obra Osho The Sun Rises in the Evening Chapter 9]

Texto • Geisa D'avo

DESPERTANDO O CONHECIEMENTO - Ganesha, o guardião da sabedoria

Ganesha, o guardião da sabedoria

 


Símbolo de superação, Ganesha é a divindade a quem os hindus recorrem para evocar sucesso em suas empreitadas


Quatro braços e cabeça de elefante. A aparência de um monstro não condiz com a bondade e graciosidade de Ganesha – o “senhor de todos os seres” – filho de Shiva, “a realidade suprema”, e da deusa da beleza, Parvati.
Ganesha é o deus removedor dos obstáculos, guardião do conhecimento, senhor da inteligência e da sabedoria. Segundo os hindus, quem segue seus ensinamentos alcança, em primeiro lugar, o equilíbrio. As demais graças – saúde, sucesso, prosperidade e riqueza – são consequências da sabedoria suprema.
A função de Ganesha é ser o escrivão dos céus. Na cultura hindu, é preciso recorrer primeiro a ele antes de orar para as outras divindades. Seus devotos também fazem preces ao deus antes de realizarem qualquer atividade do dia a dia – seja ela o início de uma aula, de um dia de trabalho ou uma viagem.
O motivo disso é a crença de que, rezando para Ganesha, a pessoa será capaz de superar uma obstáculo ou problema, por mais instransponível que ele pareça. Essa dádiva oferecida pelo deus torna seus seguidores ricos, seja espiritualmente, seja materialmente. “Os hindus acreditam piamente na força de Ganesha, por isso apelam ao deus constantemente, sobretudo em certas datas do calendário deles”, diz o teólogo José Murilo Haidar, um estudioso das culturas orientais.

O ano religioso dos hindus segue o ciclo lunar. Os meses são divididos de acordo com as fases da lua. A metade luminosa – para nós, lua crescente e cheia – traz energia positiva. Na fase obscura, lua minguante e nova, as possibilidades de fracasso aumentam. Nessa fase, as orações à Ganesha são feitas com mais ardor.
Não por acaso, a fase luminosa do mês é conhecida como “fase de Ganesha”, um período indicado para o início de novos projetos.

A lenda de Ganesha

O deus Shiva tinha muitas esposas. Uma delas destacava-se pela beleza: Parvati. Apaixonada por Shiva, era uma mulher extremamente devotada. O deus, por sua vez, retribuía a afeição.
Por ela, Shiva deixava, inclusive, de se entregar a um de seus maiores prazeres: viajar. Ele gostava das montanhas, especialmente as inacessíveis para pessoas comuns, aonde ia montado em sua vaca branca Nandi.

Nesses lugares, o deus chegava a atingir estados meditativos superiores. Quando isso ocorria, nem terremotos eram capazes de despertá-lo.

Embora sentisse falta das viagens, seu amor por Parvati o impelia a ficar com ela. Percebendo isso, Parvati o incentivou a viajar novamente. Shiva, então, concordou com a idéia e partiu. Ao sair, ele não sabia, porém, que Parvati esperava um filho seu.

Anos depois, quando finalmente levantou de sua posição de lótus, Shiva retornou. Parvati havia realizado uma transformação na casa. Ele não só estranhou a casa, como o rapaz que estava na propriedade.
Impaciente e desnorteado, de forma rude, Shiva ordenou ao rapaz que abrisse o portão. O garoto não o fez e, diante da insistência de Shiva – e sem saber que o homem era o seu pai – sacou a espada. Em fúria, Shiva despertou seu terceiro olho e, em segundos, o rapaz foi decapitado.

Ao ouvir gritos, Parvati correu e viu a pior cena de sua vida. Aos prantos, ela abraçou o corpo do filho e descarregou sua dor contra Shiva que, ao se dar conta do que aconteceu, foi acometido por tristeza e desespero profundos.

Para reparar seu erro, o deus teve a idéia de capturar o primeiro animal que encontrasse e colocar sua cabeça no corpo do filho para trazê-lo de volta à vida. Encontrou um elefante bebê e realizou a troca. De volta à vida, o rapaz, que até então se chamava Ganapati, passou a ser conhecido como Ganesha.
Insatisfeita com a aparência do filho, Parvati pediu ao deus Brahma que desse ao menino outra aparência. Para satisfazâ-la, Brahma determinou, então, que Ganesha se tornasse o deus da sabedoria.

 Texto • Fernando Tió Neto

DESPERTANDO O CONHECIMENTO - Os Rituais e Tradições orientais - Uma dica para cada sentido

Uma dica para cada sentido

 


Os rituais e tradições orientais contam com uma série de práticas voltadas ao bem-estar. A seguir, você confere receitas trazidas desta cultura que vão mostrar como é fácil aguçar nossos sentidos e, de quebra, obter uma grande paz de espírito. Pratique!


Perfume dos deuses

Nos dias de hoje, parece normal acender um incenso com o simples intuito de perfumar o ambiente. Mas quando este artefato foi criado, milênios atrás, sua utilização estava totalmente ligada a rituais religiosos ou à espiritualidade. Segundo a crença da época, o incenso atraía deuses e deusas, afastava os maus espíritos e purificava o corpo e a alma. Então, que tal resgatar sua antiga função?
O incenso de vareta, com o qual estamos mais habituados, é o formato do incenso hindu, composto de resina e ervas aromáticas. Quando acendê-lo, pare um instante e tente experimentar a sensação de tranquilidade espiritual proporcionada. Se desejar, vale até fazer uma breve oração. A seguir, veja alguns tipos de incenso e suas propriedades:

ARRUDA – é ideal para proteção, limpeza psíquica, física e de ambientes carregados.
CRAVO-DA-ÍNDIA – beneficia a espiritualidade e estimula a sensualidade.
MANJERICÃO – atrai sorte, dinheiro e também é usado para defumação.
MIRRA – traz saúde, purifica e serve como oferenda aos deuses.

Temperos da vida



Exóticas e saborosas, as especiarias exaltam o prazer à mesa. Mas sua importância se estende também para fora das cozinhas. Foi atrás delas, por exemplo, que os portugueses no século 14 cruzaram os oceanos e, dizem por aí, descobriram sem querer uma terra que mais tarde batizaram de Brasil.
No período das Grandes Navegações, esses ingredientes ajudavam a mascarar o gosto ruim dos alimentos que, com as longas viagens, apodreciam facilmente. Além disso, por trás de cada um desses temperinhos existem histórias únicas e fascinantes. As primeiras notícias que se tem do uso do cravo-da-índia, por exemplo, vêm da China, onde os súditos da dinastia Han (206 a.C – 220 d.C) mascavam cravo antes de falar com os imperadores. Desde aquela época, esta especiaria é usada como condimento, remédio e aromatizante.
Hoje, sabe-se que o eugenol, óleo essencial dessa planta, tem efeito antiinflamatório, cicatrizante e analgésico. O curry, o gengibre, a hortelã, o manjericão e a pimenta-do-reino são outras especiarias vindas do Oriente e muito comuns à nossa culinária  e cotidiano.

O som da meditação

Em sânscrito antigo, a palavra mantra significa “pensamento que protege a mente”. Segundo a tradição oriental, quando entoados em voz alta, esses sons sagrados têm o poder de interromper o fluxo de pensamentos intermitentes, ajudando o ser humano a entrar em estado meditativo.
A meditação em mantras é uma meditação cantada. Durante sua recitação, é fundamental manter o foco no controle da respiração e na vibração que o som produz dentro de sua cabeça. Para começar a praticar, a dica é optar pela entoação do famoso “Om Mani Padme Hum” – os tibetanos pronunciam “Aum Mani Peh-meh Hoom”.
O “Om” é o mais importante de todos os mantras, considerado o som do infinito e do absoluto. É um mantra altamente positivo, que afasta os pensamentos negativos e atrai boas energias.






Mãos à obra



Que o contato com a natureza faz bem à alma e à saúde, todo mundo sabe. Mas para quem não tem tempo de fugir para longe da poluição, praticar a ikebana pode ser uma boa alternativa. A arte japonesa de arranjar flores, ramos e galhos naturais, além de demandar concentração e elevar a espiritualidade, leva-nos a trabalhar a sensibilidade a partir do manuseio dessas plantas.
Para praticá-la, é preciso seguir algumas regras, como prestar atenção ao tamanho dos galhos e caules para cortar apenas o que não é necessário e deixar mesmo as folhas com pequenas imperfeições, afinal, a ideia é dar vazão para que os arranjos acompanhem o ritmo da vida e as imperfeições fazem parte dela.
Tantos cuidados fazem com que os arranjos sobrevivam com muito mais vida, ao mesmo tempo em que despertam nossa harmonia interior. Vale a pena experimentar.

Imagens que emanam energia

Thangkas são símbolos que, de acordo com a tradição tibetana, trazem proteção, amor, sucesso, abundância, pureza, fama, superação de obstáculos e sabedoria. Desenhá-los ou pintá-los é uma prática espiritual que ajuda a desenvolver as qualidades universais positivas. As figuras representam os oito presentes ofertados pelos seres celestiais a Buda quando ele obteve sua iluminação, há 2,5 mil anos.
Simbólicos, eles emanam energias puras e versam sobre qualidades diferentes. Para os budistas, cada um dos oito símbolos auspiciosos traz uma “chuva de bênçãos”, como se costuma dizer no Tibete. Pintá-los é uma ação virtuosa que ajuda a suavizar, e até anular, o carma negativo e que também gera méritos, ou carma positivo.
Os benefícios da prática de pintar tankhas também podem ser compartilhados em pensamento com pessoas queridas em uma pequena cerimônia de dedicação de méritos.



DESPERTANDO O CONHECIMENTO - Estimule seu sexto sentido

Estimule seu sexto sentido


Além de aguçar os cinco sentidos, os tesouros do Oriente despertam, também, a intuição e a espiritualidade. A seguir, confira como tradições milenares da China, da Índia e do Japão podem clarear a mente e acalentar o espírito



Não é fácil definir o sexto sentido. Também, não é preciso. Quando uma intuição forte chega, sabemos que devemos seguir determinado caminho, mesmo sem entender o por que da escolha. Da mesma forma, quando percebemos que o tal sentido extra está funcionando a todo vapor, ficamos mais seguros para tomar decisões e esbanjamos autoconfiança por aí. Não custa nada, portanto, estimular essa faculdade tão especial, que já é valorizada há milênios pelos orientais.

Sete deuses da felicidade

Para atrair boa sorte, os japoneses costumam invocar um time poderoso: Jurojin, Daikuten, Bishamon, Fokurokuju, Ebisu, Hotei e Benten, os sete deuses da felicidade. Para receber suas bençãos, vale procurar as imagens em lojas de artigos orientais e mantê-las sempre por perto. Além de realizar pedidos, os deuses da felicidade também podem estreitar o contato com o mundo espiritual.

Pergunte ao oráculo

O I Ching, ou Livro das Mutações, é uma das obras mais antigas da literatura mundial, com cerca de três mil anos de história. Segundo os chineses, nele estão sintetizadas todas as leis que regem as transformações da vida. “O oráculo nos ajuda a entender melhor a circunstância em que vivemos”, afirma Wagner Canalonga, professor de I Ching da Sociedade Taoísta do Brasil. Segundo o professor, os chineses acreditam que todas as respostas para nossas dúvidas já estão dentro de nós, mas o I Ching pode nos dizer, principalmente, quando é hora de agir – temos os momentos certos para avançar, expandir, mudar ou crescer, e o tempo de recuar, recolher-se e esperar. Para consultar o oráculo, além das inúmeras edições do I Ching já lançadas no Brasil, você pode acessar sites como www.uol.com.br/iching, que trazem tabelas, consultas interativas e textos detalhados de cada um de seus símbolos.

O poder do terceiro olho

O sagrado ponto bindi, também conhecido como kumkum ou mangalya, representa o terceiro olho na cultura indiana. Normalmente, é um pontinho vermelho feito com vermilion, um corante oriental produzido à base de sulfato de mercúrio. Símbolo de sexto sentido, pode ajudar a abrir os canais de energia do chakra Ajna, localizado entre as sobrancelhas. Tradicionalmente utilizado somente pelas mulheres casadas, hoje, também é usado pelas solteiras e viúvas, com o objetivo de estimular a intuição e facilitar os caminhos da autodescoberta.

Flor de Lótus: da escuridão à luz

De acordo com a tradição budista, Lótus é o símbolo da expansão espiritual, do que é puro e sagrado. Diz a lenda que assim como a flor de Lótus cresce da escuridão do lodo para a superfície, a mente possui a capacidade de expandir suas verdadeiras qualidades ao emergir da sombra provocada pela paixão e a ignorância. Apesar de suas raízes estarem na profundidade sombria desse mundo, a flor de Lótus ergue-se até a totalidade da luz. Isso é possível, no entanto, apenas porque o impulso para a luz está adormecido em sua semente. Da mesma forma, se o impulso para uma maior consciência e conhecimento já não existisse adormecido em um estado de profunda ignorância, um iluminado jamais poderia erguer-se da escuridão para a iluminação.

PENSAMENTO, POESIAS E REFLEXÕES - O zazen e a sabedoria da coruja

O zazen e a sabedoria da coruja

 
 

As pessoas haviam ido para o zazen de iniciantes. Sentavam-se caladas e imóveis, de face para uma parede clara, ouvindo os sons internos e externos, transcendendo o comum e o sagrado, indo além do pensar e do não-pensar, procurando alcançar a sabedoria completa – aquele saber-conhecer-perceber profundo que nos coloca face a face com a Verdade.

Contato direto com a realidade real. Indo além de conceitos e de preconceitos. Antes do pensar se iniciar, antes da dualidade se criar. Antes do dividir e escolher. Antes do separar e julgar. Antes... Quando tudo apenas é. E nesse ser, percebe-se o interser. Inter-relacionamentos perfeitos e sincrônicos na grande sinfonia do universo. Nós tão pequenos humanos. Tão sonhadores de uma grandeza à qual não alcançamos.

Lembrei-me, então, do planeta Marte, vermelho e brilhante, que deixou nosso céu mais vasto e nos fez pensar em marcianos. Na minha infância, os marcianos eram verdes e a vida em Marte, uma fascinação. Discos voadores, objetos voadores não-identificados... Até pensei ter visto algo assim de relance, na curva do prédio. Mas era apenas a ponta do dirigível sobrevoando a cidade. Dirigíveis são lindos.

Será que somos dirigíveis? Quero dizer, será que podemos dirigir a nós mesmos? Ter acesso à central de controle de nossas vidas? Guiar a nós mesmos? Ou será que somos dirigidos por alguém mais? Será que somos controlados por radares espaciais? Será que as propagandas, revistas, televisões, modas e padrões determinam nossas opções? Essas e outras questões podem surgir nos momentos em que estamos sentados, quietos, imóveis, sedentos do encontro com o mais sagrado, como naquele momento, ali na sala de zazen, onde a pequena coruja nos espreitava.

Conseguimos penetrar a origem da mente, a origem do ser, a origem da vida, aquilo que não nasce nem morre, que apenas se revolve, transmuta e reforma incessantemente.
A coruja marrom-acinzentada, de olhos grandes e bico pequeno, estava empoleirada no canto do altar. De repente, voou baixo, perto das cabeças das pessoas entregues em zazen e, desorientada, bateu a cabeça no vidro da porta. Baratinada, voou para o outro lado. Bateu na parede e se sentou com os olhos semicerrados – será que meditava procurando o sagrado?

Meditar é um verbo que, às vezes, requer um objeto – meditar sobre a vida, sobre as obras do Senhor, sobre suas ações. Mas ele também pode ser um verbo intransitivo, que se encerra, que dispensa complementos – meditar no sentido de refletir, sem objeto, sem objetivo, sem nada. A qual meditação se entregava a ave perdida na sala encontrada?

Nós, humanos, nos regozijamos ao ver a ave, pois a coruja simboliza a grande sabedoria. Sabedoria essa que ali na sala poderia estar. Teria ela, a sabedoria, vindo nos visitar? Olhos enormes que enxergam no escuro. Que tesouro poder tudo ver, compreender. Adeus aos rancores e tantos temores. Sabedoria brilhante, irradiante!

Os meditadores se levantaram e foram embora alegres com o bom presságio. Fiquei encantada e preocupada em como lidar com a coruja na sala. Escurecemos o ambiente, deixando a luz de fora acesa para que ela encontrasse o caminho da volta. Volta para onde? De onde viera a coruja tão pequena e tão bela? Teria fugido de alguma morada? Teria um ninho, uma árvore, uma casa? Seria sem-teto? E o céu, não é nada? Depois de alguns instantes, ela voou. Tão lindo vê-la de asas abertas. Obrigada, amiga, por sua visita.

“Qual o objetivo do zen?” – me pergunta alguém. Encontrar o sagrado secreto.

O que é o zazen

Literalmente, significa “sentar zen”. Zen é uma palavra que vem do sânscrito dhyana ou jhana e significa um estado meditativo profundo. Segundo o zen-budismo, a Verdade transcende a expressão da linguagem, e só pode ser alcançada por meio da prática do zazen. Para elevar a mente, os zen-budistas ficam em meditação silenciosa, sentados na posição “agura”, com o pé esquerdo apoiado sobre a coxa direita. A mão direita fica sobre o pé esquerdo, com a palma para cima. Por cima dela, é estendida a mão direita.


Texto • Monja Coen

Monja Coen é missionária oficial da tradição Soto Shu – Zen Budismo com sede no Japão e é a primaz fundadora da Comunidade Zen Budista do Brasil, criada em 2001, com sede em São Paulo.

DESPERTANDO A CONSCIÊNCIA - Meditação: 10 motivos para aderir

Meditação: 10 motivos para aderir


Energia extra

A mente focada no presente é sinônimo de alta capacidade de concentração. Assim, fica fácil realizar todas as tarefas do dia a dia com muito mais foco e energia. Além disso, a sensação de renovação após o exercício meditativo não aparece por acaso: 20 minutos de prática podem proporcionar um descanso até duas vezes mais profundo do que quatro horas de sono noturno.

Prática frequente

Como qualquer outra atividade, a meditação tem seus benefícios ampliados de acordo com a regularidade com que é realizada. Por isso, não vai adiantar muito se você meditar com pouca frequência – nesse caso, até sua evolução com a técnica estará comprometida. O ideal é tentar praticar diariamente, mesmo que por poucos minutos.

Quem medita...

Descobre a beleza interior e desenvolve a autoestima.
Amplia a capacidade de manter o equilíbrio diante de desafios.
Tem mais facilidade para assumir responsabilidades.
Aprende a lidar melhor com os desafios, a não fugir ou adiá-los.
Sabe cooperar e apreciar o valor único de cada pessoa.
Liberta-se do passado, deixando de lado mágoas e ressentimentos.

Pensamento positivo

Todos os dias, novas descobertas confirmam o que antes parecia puro misticismo: ter uma atitude positiva diante da vida pode melhorar muito mais do que sua saúde mental e emocional. De acordo com pesquisadores da Universidade de Ohio, nos EUA, já está mais que comprovado que pensamentos negativos e estresse provocam mudanças no sistema imunológico, abrindo as portas para as mais diversas doenças. Por isso, fica fácil constatar que estar de bem com a vida pode trazer diversos benefícios.

Os mantras

Em sânscrito antigo, a palavra mantra significa “pensamento que protege a mente”. Segundo a tradição oriental, quando entoados em voz alta, esses sons sagrados têm o poder de interromper o fluxo de pensamentos intermitentes, ajudando o ser humano a entrar em estado meditativo. A meditação em mantras é cantada. Durante sua recitação, é fundamental manter o foco no controle da respiração e na vibração que o som produz dentro de sua cabeça. Para começar a praticar, inicie com a entoação do famoso “Om Mani Padme Hum” – os tibetanos pronunciam “Aum Mani Peh-Meh Hoom” –, um mantra que afasta pensamentos negativos e atrai boas energias.

Mente esperta

No campo mental, um dos principais benefícios da meditação é aumentar o potencial de raciocínio e aprendizagem. A atividade cerebral harmônica auxilia a capacidade de memorização e a interação entre os neurônios. O equilíbrio emocional também é favorecido: a lucidez despertada pela atividade meditativa impede o praticante de entrar em conflitos internos e promove muito mais clareza mental, objetividade, paciência e compreensão.

A ciência explica

Os pesquisadores do Mind/Body Medical Institute, da Escola de Medicina de Harvard, líder mundial em pesquisas clínicas sobre a relação mente/corpo, garantem: não há depressão, estresse ou outro mal do mundo moderno que resista à meditação regular. Enxaqueca, hipertensão e dores também são aliviadas pela prática, que diminui a atividade do sistema nervoso simpático, decresce o fluxo sangüíneo e desacelera o metabolismo em geral. O resultado, além da saúde em dia, é uma sensação de relaxamento e bem-estar que se espalha pelo corpo todo.

Fórmula da juventude

A atividade cerebral gerada pela meditação estimula a produção de endorfinas, substâncias naturais capazes de inibir a produção de inimigos da juventude, como o cortisol e os radicais livres. Estudos do Mind/Body Medical Institute também constataram que praticantes de meditação transcendental, após cinco anos de prática, apresentam uma idade biológica cerca de 12 anos mais nova do que a idade cronológica.

Caminhos eficazes

Algumas dicas para facilitar a prática da meditação:
1. Tente simplesmente não pensar – esvazie sua mente.
2. Controle a respiração – você formará um elo entre as partes consciente e inconsciente de sua mente. Aos poucos, aprenderá a controlar seus pensamentos, resistindo às pressões do subconsciente.
3. Contemplação visual também é uma forma de meditação. Olhe para um objeto, uma frase, uma chama de vela, e focalize-o até que exista apenas isso em sua mente.
4. Feche os olhos – antes de tudo, tente enxergar seu primeiro nome escrito ou uma letra. Depois, visualize alguma imagem.
5. Relaxe sua mandíbula inferior e abra um pouco a boca – respire por ela, não profundamente, mas de forma curta. Todo o seu corpo ficará relaxado.

Faça do seu jeito

Para meditar, não é preciso se esforçar para deter os pensamentos, já que, a rigor, qualquer atividade que mantenha sua mente concentrada no agora pode ser definida como meditação. O segredo, ensinam seus praticantes, é focar a atenção no momento presente, melhor ainda, em uma ação que lhe dê prazer. Por isso, descobrir uma atividade que desperte esse estado de concentração é a melhor forma de achar sua maneira particular de meditar. Dança de salão, artes marciais, culinária e mesmo permanecer na tradicional posição de lótus ou praticar exercícios respiratórios são formas válidas de prender a sua atenção, voltar a consciência para o momento presente e sintonizar-se com a sua verdadeira essência.

DESPERTANDO O CONHECIMENTO - Pilares da filosofia chinesa

Pilares da filosofia chinesa

Mergulhamos fundo em alguns dos conceitos fundamentais da filosofia chinesa, que regem a prática do Tai Chi Chuan e de tantas outras terapias milenares do Oriente. E o resultado está aí, devidamente traduzido ao imaginário ocidental. Mergulhe também!


Yin e Yang

Tudo na vida possui dois lados. Pense nos extremos mais comuns: masculino e feminino, dia e noite, quente e frio. Observar a dupla natureza de todas as coisas é a melhor maneira de entender o que representa essa tão famosa bolinha preta e branca que você vê aí do lado: Yin e Yang são as duas energias essenciais do universo, que influenciam tudo o que existe, de forma dinâmica, sempre em mutação. O ar, por exemplo, pode se apresentar como uma brisa calma e refrescante, ou então como um furacão devastador. Com as pessoas, é a mesma coisa: em um dia podemos estar extrovertidos e calorosos; em outro, retraídos e introspectivos. Essa variação denota o predomínio de energia Yin (calma, luminosa, quente) ou de Yang (agitada, noturna, fria). Interagindo entre si o tempo todo, essas duas forças nos influenciam e determinam a maneira como cada um de nós percebe a realidade e expressa o que sente e pensa. Dessa forma, mantêm o mundo em constante transformação.

Tao

O Tao é... bem, tudo é o Tao. Hum, ok, essa não foi uma definição muito clara. Para falar a verdade, o tal do Tao pode ser um pouco difícil de se entender mesmo. Isso porque, segundo o Tao Te Ching – que é uma das mais importantes escrituras antigas da filosofia chinesa – esse conceito metafísico não pode ser expresso em palavras, sequer classificado por forma, tamanho ou qualquer outra qualidade que limite. O tratado explica, ainda, que tudo o que existe no mundo é uma manifestação do Tao, que contém e está contido em todas as coisas. Por isso, há quem o chame de “infinito”. Na verdade, a palavra “Tao” significa “caminho”, “direção” – embora alguns estudiosos prefiram o termo “curso”, como o curso de um rio. De forma prática, então, pense no Tao como um ciclo perfeito, que nunca termina e cujo sentido se altera o tempo todo. É o eterno movimento desse ciclo que faz o mundo existir e as pessoas viverem. Por isso, ele está sempre presente.

Qi

Quem explica é a própria tradição medicinal chinesa: todos temos uma energia vital fluindo dentro do nosso corpo. Mas não podemos vê-la, sequer senti-la, já que ela corre por canais invisíveis chamados meridianos. Eles, por sua vez, são como veias, que ligam todas as regiões do corpo, do topo da cabeça até as pontas dos dedos dos pés. Passada a teoria, entender como essa energia funciona é bem simples: quando está bem distribuída pelos órgãos e músculos, temos saúde e disposição. Mas, se ela encontra qualquer bloqueio ou entra em desequilíbrio – o que acontece quando vivemos sob doses enormes de estresse ou nos alimentamos de maneira inadequada, por exemplo –, adoecemos. Qi, ou Ki, a energia vital, é o conceito essencial da medicina chinesa, e é exatamente sobre ela que técnicas terapêuticas como o shiatsu e a acupuntura trabalham. Nelas, com o toque das mãos ou a pressão das agulhas, o terapeuta acaba com os bloqueios e libera o caminho do fluxo energético, devolvendo o bem-estar a quem se sente mal. É a fórmula chinesa da saúde.

Cinco Elementos

Já vimos que o Tao certifica que o movimento – e, consequentemente, nossa evolução – nunca pare. Já as energias Yin e Yang agem sobre nós e sobre o que nos cerca, dando o tom do movimento e da evolução constantes. No meio desses dois conceitos, está a transformação, o elemento responsável pela metamorfose – ou melhor dizendo, os Cinco Elementos responsáveis pela metamorfose. Dentro da filosofia chinesa, madeira, fogo, terra, metal e água (tradicionalmente listados nessa ordem) representam os estágios de mudança que regulam a vida: a criação e a destruição, o crescimento e o declínio. Se o Tao é o ciclo absoluto, os Cinco Elementos são como guardiões atentos que cuidam da manutenção dos ciclos menores, que estão contidos no absoluto. Em constante mudança de atividade, eles nutrem e controlam um ao outro, garantindo que as mudanças naturais sejam harmônicas e o ciclo maior não encontre pedregulhos inconvenientes em seu caminho.

I Ching

Um livro de sabedoria e um oráculo poderoso: estima-se que o texto do I Ching tenha sido escrito por sábios chineses há cerca de três mil anos. “Ching” significa clássico, enquanto o ideograma “I” é normalmente traduzido como “mudança”, “mutação” – daí o nome pelo qual é normalmente chamado no Ocidente: Livro das Mutações. Quando utilizado como oráculo, o I Ching dá respostas práticas a perguntas objetivas, destacando a importância de aproveitar as oportunidades do momento. Para consultá-lo, é necessário criar um hexagrama – símbolo composto de seis linhas. Elas nascem do lançamento de três moedas, que ao acaso caem do lado cara ou coroa. Anotam-se quantas são cara, quantas são coroa, e desenha-se um traço contínuo ou interrompido. Depois se confirma no livro o significado do hexagrama – no total, ele possui 64, além de oito trigramas. Esses trigramas, por sinal, são os mesmos que compõem o Ba Gua, o principal instrumento utilizado no Feng Shui.

Texto • Thiago Perin
 

EQULIBRIO E HARMONIA - A respiração que é o pulsar de nosso centro de energia vital

A respiração que é o pulsar de nosso centro de energia vital

Técnica tradicional chinesa está relacionada ao cultivo da longevidade
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A chamada respiração da raiz não se faz com os pulmões, mas com a pulsação da região do umbigo.
 
A respiração da raiz, também chamada de respiração pré-natal ou respiração fetal, é uma técnica dos antigos sábios chineses para o cultivo da energia vital. Diferencia-se das técnicas convencionais por ter um princípio que prioriza a circulação da energia através de movimentos que vão além da respiração pulmonar.
Estimula-se a pulsação física na região do umbigo, promovendo um movimento delicado, lento e ritmado. A pulsação ocorre com a respiração natural e espontânea, em um estado semelhante ao do bebê no útero, levando ao “retorno à origem fetal”, isto é, o movimento e a energia vital retornam à raiz da vida (umbigo).

Desde a existência dentro do útero, a respiração acontecia além dos pulmões. O feto se nutria e respirava através da mãe. Era a respiração pré-natal. O equilíbrio pleno da criança.

A partir do momento que o cordão umbilical é cortado a respiração torna-se pós-natal, continuando a pulsação viva na região do umbigo, a região do ventre permanece estimulada.

O movimento da barriga do recém-nascido faz com que o diafragma suba e desça, ativando o pulmão para receber o oxigênio que o corpo necessita e massageando os órgãos e as vísceras (importante para conservar a vitalidade do organismo). Sua vitalidade está plena.
 

Respiração encurtada
 
Ao longo da vida a respiração começa a subir, a se encurtar. A distância entre o nariz e o local que movimenta a respiração encurta, se desloca para cima até chegar à altura do pulmão (na meia idade), depois sobe à garganta (na idade avançada), ficando mais distante de sua origem (umbigo). Conforme a distância aumenta, reduz-se a movimentação de todos os órgãos e vísceras, resultando em uma perda de vitalidade.
Segundo a medicina tradicional chinesa, a respiração não está limitada aos pulmões; a pele, os órgãos e as vísceras pulsam sutilmente contribuindo de forma energética e física.
Nascemos com uma quantidade de energia pré-natal definida por fatores hereditários genética e energeticamente. Esta energia deverá ser conservada durante toda a trajetória de nossa vida, mas ela é gasta e dispersada no dia a dia de forma lenta e imperceptível.
Uma maneira de conservá-la e de readquiri-la são os treinos de energia da respiração da raiz, que têm a função de estimular a saúde, fortalecer o corpo, o espírito, e obter a longevidade. 

O treino
 
Após treinar diariamente por um determinado período, o praticante eventualmente sentirá calor na região do umbigo. A partir daí, pode sentir o calor se espalhar para o corpo inteiro, trazendo inúmeros benefícios para a saúde.

O ponto de origem fetal (raiz) se posiciona aproximadamente 5 cm para dentro e para baixo, a partir do umbigo. A região do baixo ventre é como se fosse o gerador – a fonte da vida – da capacidade de respirar, da circulação, da digestão, da evacuação e da reprodução, entre outras.

Se o baixo ventre estiver fortalecido, a raiz será mais resistente e, consequentemente, a essência (energia ancestral herdada dos pais) e a energia vital poderão estar em plenitude.

A respiração da raiz pode também harmonizar a respiração pulmonar, levando-a ao estado natural, propiciando um estado de equilíbrio e serenidade. É um treino básico para quem medita, pratica artes marciais internas, faz atendimentos terapêuticos, ou apenas deseja mais longevidade com vitalidade.