Pilares da filosofia chinesa
Mergulhamos fundo em alguns dos conceitos
fundamentais da filosofia chinesa, que regem a prática do Tai Chi Chuan e
de tantas outras terapias milenares do Oriente. E o resultado está aí,
devidamente traduzido ao imaginário ocidental. Mergulhe também!
Yin e Yang
Tudo na vida possui dois lados. Pense nos extremos mais comuns:
masculino e feminino, dia e noite, quente e frio. Observar a dupla
natureza de todas as coisas é a melhor maneira de entender o que
representa essa tão famosa bolinha preta e branca que você vê aí do
lado: Yin e Yang são as duas energias essenciais do universo, que
influenciam tudo o que existe, de forma dinâmica, sempre em mutação. O
ar, por exemplo, pode se apresentar como uma brisa calma e refrescante,
ou então como um furacão devastador. Com as pessoas, é a mesma coisa: em
um dia podemos estar extrovertidos e calorosos; em outro, retraídos e
introspectivos. Essa variação denota o predomínio de energia Yin (calma,
luminosa, quente) ou de Yang (agitada, noturna, fria). Interagindo
entre si o tempo todo, essas duas forças nos influenciam e determinam a
maneira como cada um de nós percebe a realidade e expressa o que sente e
pensa. Dessa forma, mantêm o mundo em constante transformação.
Tao
O Tao é... bem, tudo é o Tao. Hum, ok, essa não foi uma definição
muito clara. Para falar a verdade, o tal do Tao pode ser um pouco
difícil de se entender mesmo. Isso porque, segundo o Tao Te Ching – que é
uma das mais importantes escrituras antigas da filosofia chinesa – esse
conceito metafísico não pode ser expresso em palavras, sequer
classificado por forma, tamanho ou qualquer outra qualidade que limite. O
tratado explica, ainda, que tudo o que existe no mundo é uma
manifestação do Tao, que contém e está contido em todas as coisas. Por
isso, há quem o chame de “infinito”. Na verdade, a palavra “Tao”
significa “caminho”, “direção” – embora alguns estudiosos prefiram o
termo “curso”, como o curso de um rio. De forma prática, então, pense no
Tao como um ciclo perfeito, que nunca termina e cujo sentido se altera o
tempo todo. É o eterno movimento desse ciclo que faz o mundo existir e
as pessoas viverem. Por isso, ele está sempre presente.
Qi
Quem explica é a própria tradição medicinal chinesa: todos temos uma
energia vital fluindo dentro do nosso corpo. Mas não podemos vê-la,
sequer senti-la, já que ela corre por canais invisíveis chamados meridianos.
Eles, por sua vez, são como veias, que ligam todas as regiões do corpo,
do topo da cabeça até as pontas dos dedos dos pés. Passada a teoria,
entender como essa energia funciona é bem simples: quando está bem
distribuída pelos órgãos e músculos, temos saúde e disposição. Mas, se
ela encontra qualquer bloqueio ou entra em desequilíbrio – o que
acontece quando vivemos sob doses enormes de estresse ou nos alimentamos
de maneira inadequada, por exemplo –, adoecemos. Qi, ou Ki, a energia
vital, é o conceito essencial da medicina chinesa, e é exatamente sobre
ela que técnicas terapêuticas como o shiatsu e a acupuntura trabalham.
Nelas, com o toque das mãos ou a pressão das agulhas, o terapeuta acaba
com os bloqueios e libera o caminho do fluxo energético, devolvendo o
bem-estar a quem se sente mal. É a fórmula chinesa da saúde.
Cinco Elementos
Já vimos que o Tao certifica que o movimento – e, consequentemente,
nossa evolução – nunca pare. Já as energias Yin e Yang agem sobre nós e
sobre o que nos cerca, dando o tom do movimento e da evolução
constantes. No meio desses dois conceitos, está a transformação, o
elemento responsável pela metamorfose – ou melhor dizendo, os Cinco
Elementos responsáveis pela metamorfose. Dentro da filosofia chinesa,
madeira, fogo, terra, metal e água (tradicionalmente listados nessa
ordem) representam os estágios de mudança que regulam a vida: a criação e
a destruição, o crescimento e o declínio. Se o Tao é o ciclo absoluto,
os Cinco Elementos são como guardiões atentos que cuidam da manutenção
dos ciclos menores, que estão contidos no absoluto. Em constante mudança
de atividade, eles nutrem e controlam um ao outro, garantindo que as
mudanças naturais sejam harmônicas e o ciclo maior não encontre
pedregulhos inconvenientes em seu caminho.
I Ching
Um livro de sabedoria e um oráculo poderoso: estima-se que o texto do
I Ching tenha sido escrito por sábios chineses há cerca de três mil
anos. “Ching” significa clássico, enquanto o ideograma “I” é normalmente
traduzido como “mudança”, “mutação” – daí o nome pelo qual é
normalmente chamado no Ocidente: Livro das Mutações. Quando utilizado
como oráculo, o I Ching dá respostas práticas a perguntas objetivas,
destacando a importância de aproveitar as oportunidades do momento. Para
consultá-lo, é necessário criar um hexagrama – símbolo composto de seis
linhas. Elas nascem do lançamento de três moedas, que ao acaso caem do
lado cara ou coroa. Anotam-se quantas são cara, quantas são coroa, e
desenha-se um traço contínuo ou interrompido. Depois se confirma no
livro o significado do hexagrama – no total, ele possui 64, além de oito
trigramas. Esses trigramas, por sinal, são os mesmos que compõem o Ba
Gua, o principal instrumento utilizado no Feng Shui.Texto • Thiago Perin
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