Tantra: o caminho da plenitude
Uma filosofia em que as mulheres são consideradas
deusas, o sexo é sagrado e a união entre dois amantes atinge um nível
espiritual. Parece sonho? Então descubra o tantra agora mesmo
Quando se houve falar sobre tantra, é quase automática a associação
com a palavra sexo. Em uma época de apologia ao prazer, qualquer técnica
ou filosofia que garanta sua expansão atrai curiosos. No entanto,
engana-se quem pensa que o tantra se restringe ao campo sexual. Ele é,
na verdade, uma filosofia comportamental que reúne uma série de práticas
que buscam a integração completa entre mente, corpo e espírito. Nesse
universo, a energia sexual é concebida como um caminho para o
crescimento interior e causa mudanças não apenas na cama, mas na vida de
quem o adota.
Mulheres divinas
A filosofia tântrica foi desenvolvida por um povo chamado drávida, há
mais de cinco mil anos, em uma região que hoje é a Índia. Tratava-se de
uma civilização agrícola (não-guerreira), que não tinha religião, e via
a mulher como deusa, em virtude de seu dom de gerar. Exatamente por ser
o meio pelo qual a mulher exerce sua capacidade reprodutora, o sexo
passou a ser valorizado e tratado como algo sagrado.
O tantra, em sua essência, tem características dessa sociedade
matriarcal, que promovia o uso dos sentidos e se opunha a qualquer
repressão ou preconceito. Ele se dividiu em duas correntes distintas:
Tantra da Mão Direita (ou Dakshina Tantra Yoga) – menos conhecido –, e
Tantra da Mão Esquerda (ou Vama). O Tantra da Mão Direita considera que
cada ser humano possui em si todos os pressupostos que lhe possibilitam
alcançar o autoconhecimento e atingir a felicidade. O da Mão Esquerda
preconiza que a energia sexual inerente a cada um, em vez de ser
reprimida, deve ser canalizada para todos o setores da vida, gerando
disposição e felicidade.
Sexo no altar
A cultura ocidental trata o sexo como algo pecaminoso, sujo e
proibido. Aqueles que assumem ter libido intensa, especialmente as
mulheres, são vítimas de apelidos depreciativos, que colocam em xeque
até seu próprio caráter. O tantrismo propõe valores completamente
antagônicos aos de nossa sociedade ao dizer que o sexo é sagrado.
A filosofia indiana reconhece a energia sensual interior de cada um e
nos livra do medo e da culpa de assumir que o sexo pode ser o caminho
para o autoconhecimento, o aumento da sensibilidade, da harmonia entre
os casais e do ânimo diante das outras áreas de nossas vidas. O tantra
vê o ato sexual, o qual denomina de maithuna, como muito mais do que uma
relação física, mas uma experiência que transcende o espaço e o tempo e
envolve corpo, mente e espírito.
Explosão de prazer
Em sociedades patriarcais, como a nossa, durante o sexo, o papel
ativo cabe ao homem. Sua satisfação é o objetivo principal. Ele se
concentra na aceleração de seus movimentos e abrevia a ejaculação, como
se este fosse o ponto culminante do ato. Acostumadas, as mulheres, em
sua maioria, não apenas se conformam, mas se empenham para que seu
parceiro atinja logo esse momento tão esperado. Para tal, chegam a
renunciar ao próprio prazer.
Nossa cultura limita o sexo à área genital. Para o adepto do tantra, o
maithuana ultrapassa essa esfera e é conduzido pela mulher. Todo o
corpo é explorado, pedaço a pedaço. O homem tântrico protela o quanto
pode a ejaculação – já que ela causa o cansaço que o impede de continuar
–, usando para isso muita concentração e exercícios. Segundo ele, a
retenção do sêmen é um verdadeiro estoque de energia que, ao final, se
transforma em uma incrível explosão de prazer.
Ao contrário do sexo convencional, no tântrico, os orgasmos não
encerram o contato íntimo. É possível ter uma porção deles, mas ainda
assim continuar. É por isso que o maithuana dura, em média, cerca de
sete horas! Só para se ter uma ideia, a média mundial de duração em uma
relação comum é de apenas 15 minutos.
Depois de saber tudo isso, a pergunta que fica é: por que o tantra
não se torna uma prática popular? Simplesmente porque não basta mudar de
atitude na cama, como muita gente pensa. É verdade que os exercícios
tântricos podem elevar a qualidade do sexo, porém não são suficientes.
Para fazer sexo tântrico é preciso que os dois participantes estejam
envolvidos espiritualmente. A entrega não é apenas física.
Além disso, é preciso conservar sua saúde, abandonar vícios e não
ingerir qualquer substância que altere seu nível de consciência e
obstrua os canais energéticos do corpo. Logo, não adianta você
simplesmente decidir que fará sexo tântrico esta noite, mas sim, adotar
um novo estilo de vida.
Texto • Fabiana Oliveira